Na sala de aula, o quadro é uma tela de computador touch screen (sensível ao toque) no qual o professor usa um pilot digital para escrever, e os alunos baixam o arquivo em seus laptops ou imprimem, sem mouse nem teclado. Parece um futuro distante? Essa tecnologia já existe. Chama-se smart board e não é a única usada para incrementar o aprendizado. Muitas escolas já têm computadores conectados à internet e utilizam diversos meios para desenvolver a criatividade, ensinar e deixar a aula mais atraente.
Jogos educacionais podem incrementar a aula, gibis, através de personagens infantis e histórias divertidas, ajudam a entender ciência e um jogo de RPG pode desenvolver a criatividade da criança e ensinar história ou geografia, fugindo da tradicional “decoreba”. O uso destas tecnologias motiva as crianças. As amigas Adrielle Santana e Larissa Cruz, ambas estudantes da 3ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Luis Delfino, freqüentam o programa Khouse, projeto de inclusão digital na PUC, e adoram as aulas. “A gente aprende muito e não perde uma aula”, conta Adrielle.
O Khouse, ligado ao Kidlink (grupo de pesquisas em educação digital da Fundação Padre Leonel Franca, na PUC-Rio), é responsável pelos primeiros passos de adultos e crianças na alfabetização digital, a alfabytezação. Os professores ensinam os alunos a mexer na internet e nos programas sempre com algum propósito educacional. A professora do projeto Alice Cardia explica que tanto ela quanto os professores dos colégios notam a melhora na escrita com textos feitos no Word, além de desenvolvimento mental e motor nos estudantes.
Marisa Lucena, coordenadora do Kidlink há quinze anos, acredita que, atualmente, um professor tem que fazer uso de algum tipo de tecnologia na sala de aula. No entanto, diz que é necessário preparar uma metodologia diferente:
- Existem professores que dão muito boas aulas sem tecnologias, mas isso é um atraso. Tem que usar algum material: filme, slide, computador. Não tendo, usa um jornal. Mas é preciso saber usar, também. Não é só usar por usar, afirma Marisa.
A utilização desses meios nas escolas deve ser cuidadosa para que, na hora da aula, os recursos sejam compreendidos didaticamente e não virem instrumento de diversão e dispersem a atenção dos alunos. Em muitos lugares é feito o bloqueio de alguns sites que podem ser mais atrativos do que a aula, mas isso não é o suficiente. A aula precisa ser atraente porque a intenção é seduzir o aluno. O professor de Antropologia José Carlos Rodrigues, do Departamento de Comunicação Social, José Carlos Rodrigues, acredita que o comodismo e o mau uso podem ser ruins ao ensino:
– O ponto principal que o professor deve considerar é que os meios (antigos ou modernos) são apenas meios. Um problema comum é que, por comodismo do professor ou por fascínio deste e de seus alunos pelas tecnologias, freqüentemente os meios se tornam fins. Em outras palavras: os meios não devem abolir ou substituir a ação propriamente professoral, explica Rodrigues.
O que tanto José Carlos como Marisa concordam é que o acesso a esses meios só pode ser benéfico se for democrático. Do contrário, podem acentuar mais ainda as desigualdades sociais. Mas esse não é o único problema que a tecnologia pode trazer. Marisa lembra que o uso excessivo de um computador pode causar problemas de vista, de coluna e tendinite e, caso o aluno só use o teclado, a letra pode ficar um garrancho.
Mas será que, com toda essa tecnologia, a aula tradicional com lápis, caderno e livros vai acabar? O professor José Carlos acredita que, um dia, sim, mas não agora. “Cadernos, lápis e borracha, assim como a própria escola, não existiram sempre. Portanto, não existirão para sempre. Mas o fim não me parece próximo”, acredita o professor.
Edição 198