Ana Carolina e Raphael
Para muitas pessoas, quarta-feira de cinzas é dia de guardar as fantasias e só revê-las no ano seguinte. Pode até ser que, nesse meio tempo, apareça uma festinha aqui ou acolá e a fantasia, então guardada, saia do baú ou de uma loja de aluguel. Há, no entanto, quem viva mobilizado, os 365 dias do ano, com a criação e construção dos personagens que representam: os cosplayers.
Fãs de personagens de livros, filmes, jogos, animes e mangás – desenhos animados e histórias em quadrinhos japoneses, respectivamente – os cosplayers não só se caracterizam como incorporam seus ídolos. Como o nome já diz – as palavras em inglês costume e play = fantasia e atuar –, é preciso estudar as características físicas e psicológicas do personagem escolhido para fazer uma interpretação ou um cosplay bem feitos.
Mesmo sendo um hobby e uma diversão, a atividade é levada a sério pelos adeptos. Vale tanto estudar, durante meses a fio, os trejeitos do personagem quanto encomendar perucas que chegam a custar R$ 200 em sites da internet ou contratar uma boa costureira para que a fantasia fique impecável e o mais fiel possível à figura representada.
– Procuro uma costureira que saiba fazer direitinho. Tem um cosplay que eu planejo desde 2007, mas não acho o tecido ideal para fazê-lo. Tem gente que gasta R$ 1 mil em roupa de marca. Eu prefiro gastar R$ 300 numa fantasia, afirma Juliana Carvalho, 20 anos, cosplayer desde 2002, que, atualmente, representa a jovem Giselle, de Encantada, novo filme da Disney.
O resultado da trabalhosa produção do cosplay é visto e aprovado nos encontros organizados pela tribo. Encontros que podem ser chamados de eventos, devido ao público, cada vez mais numeroso, e às atrações, como concursos e apresentações de cosplays e shows de bandas de música japonesa. É nesses eventos que a turma troca impressões sobre personagens e dicas de onde comprar adereços mais baratos ou mais difíceis de achar.
– Acho divertido encontrar o pessoal que gosta das mesmas coisas que eu e de participar dos concursos. Lá não rola preconceito porque todo mundo é desse meio. Fazer cosplay serviu para melhorar a minha timidez. Eu era muito travada, conta a aluna de Design da PUC-Rio Ana Carolina Padilha, 19 anos, mais conhecida como Haku, que, para se inteirar do mundo de mangás e animes, faz aula de japonês há cinco anos.
Competição também faz parte da diversão. Desde 2003, o campeonato World Cosplay Summit (WCS), organizado pelo canal japonês TV Aichi, reúne os cosplayers e fãs convictos do hobby de todo o mundo. Em 2006, primeira participação do Brasil no concurso, os irmãos paulistas Maurício e Mônica Somenzari encarnaram seus personagens e foram os campeões. No ano seguinte, Thais Fonseca, conhecida como Yuki, chegou à final e representou o país do outro lado do mundo.
– Realizei meu sonho de conhecer o Japão. Acho legal transformar o que está desenhado
Desafios e concursos à parte, o que importa é o espírito esportivo e a diversão que a brincadeira proporciona. “Às vezes brigamos ou temos uma richa um com o outro, como em qualquer grupo. Mas no final, o que importa, é a família que somos”, afirma Juliana.
A Grande Família
Tudo começou na década de 70, nos Estados Unidos. Durante as convenções do filme Guerra nas Estrelas (Star Wars) e da série Jornada nas Estrelas (Star Trek), se tornou comum o uso de fantasia dos personagens entre os fãs. Desde então, a caracterização passou a ser a atração dos encontros de filmes e séries de ficção científica. No entanto, foi só em 1984 que a atividade ganhou o nome que a identifica até hoje. Funcionário do estúdio japonês Studio Hard, Nov Takahashi ficou tão impressionado com a qualidade e criatividade das fantasias que viu em uma convenção
Edição 198