Batalha musical de improviso
15/05/2008 16:00
Carol Jardim

Documentário de Pedro Gomes explica a arte do freestyle

MCs Chapadão e Akira
 

 

Flow, rima, swing, criatividade, ritmo e balanço são algumas das muitas características necessárias para ingressar no mundo do freestyle, a arte de cantar rap improvisando as rimas e as letras. E foi para expor a técnica que Pedro Gomes, diretor e roteirista, de 24 anos, produziu o seu quarto documentário, Freestyle: Um Estilo de Vida. Pedro Gomes esteve na Universidade no dia 25 de abril para a exibição do filme, junto com os MCs Chapadão e Akira, que participam do filme.

 

À primeira vista, a batalha de hip-hop parece um bate-boca organizado, em que cada desafiante faz a sua rima tentando animar o público sem gaguejar nem mostrar insegurança. Provocações sobre a roupa, o estilo ou os erros de improvisação dos adversários levantam a platéia, que, no fim, decidirá o resultado final com aplausos e gritos para o favorito. Não vale chegar de casa com rima pronta, as letras são improvisadas usando sempre o que está acontecendo ao seu redor.

 

– Tem gente que chega com um monte de palavra que termina com ‘ão’ na cabeça e acha que está fazendo Freestyle. O que a gente faz é igual ter uma câmera na mão sem ter roteiro – disse João Paulo de Almeida, o MC Chapadão.

 

Segundo os MCs, para dar conta de tanta improvisação, não basta ter pensamento rápido, é preciso ter um grande vocabulário, ler muito, procurar palavras novas, para não cair em repetição.

 

– Hoje em dia, os jovens que querem fazer rap são diferentes dos da nossa época. Essa geração conhece a cultura do repente nordestino, de onde veio o Freestyle, conhecem a cultura do Rio e de São Paulo. Antes, eles não queriam saber de nada além do hip-hop – disse Pedro.

 

Depois do fim da batalha, os adversários voltam a se chamar de “mano”, ou de “brother”, dependendo de onde vêm. Pedro é de São Paulo, e os MCs Akira e Chapadão são cariocas. Além do sotaque e das gírias, os rappers dizem que a diferença entre os competidores do Rio e de São Paulo está também no conteúdo: para alguns rappers, São Paulo é “gangster”, o Rio é “underground”. Para leigos, Pedro explicou que o rap paulista se baseia mais em um discurso político, apontando a falta de acesso das comunidades a alguns setores, já no Rio, existem outros tipos de interação, como a praia e o futebol. “Porque não dá só pra ficar falando de desgraça, gostamos de falar sobre os amigos, sobre a namorada”, disse Paulo Ferreira, o MC Akira.

 

Segundo eles, o protesto não está sendo esquecido, mas está se transformando em música, que é aceita mais facilmente. Mostrando que nem só de manifestação se faz o rap, Chapadão cantou uma de suas músicas românticas. A apresentação descontraiu o ambiente para um freestyle final, cantado pelos dois MCs como deve ser, de improviso, usando como inspiração desde o espaço universitário até os flashes do fotógrafo presente na sala.

 

 

Edição 199

 

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