O projeto foi desenvolvido com base em pesquisas realizadas pelo Inca e por especialistas em psicofisiologia (estudo científico das relações entre os fenômenos psíquicos e os fisiológicos) da UFF e da UFRJ. O objetivo principal é desestimular a iniciação ao fumo, principalmente em jovens. Para isso, foram criadas figuras que causassem aversão ao cigarro. “Procuramos fazer com que todas as imagens tenham uma carga de repulsa muito grande”, conta Rejane. Aluno de Administração, Bruno Castello, de 19 anos, não é fumante, e afirma não ter vontade de fumar após ver algumas das novas imagens. “Toda a cultura que a gente recebe de não fumar pelas coisas ruins que o cigarro traz à saúde, mais essas figuras, ajudam a não começar a fumar”, afirma o aluno.
Apesar das novas imagens serem direcionadas prioritariamente aos jovens, também pretendem fazer com que fumantes abandonem o vício. A professora Teresa Goes, do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, explica que, por ser a vaidade um valor social muito forte, a imagem da mulher mostrando os males que o fumo causa na pele pode surtir efeito, mas é difícil fazer com que dependentes da nicotina abandonem o vício pelo simples fato de verem uma imagem. A professora Bárbara Assumpção, do Departamento de Comunicação Social, compartilha da idéia. “Ninguém olha para aquelas fotos quando vai fumar. Eu acho que o aumento dos impostos seria mais eficiente”, diz Bárbara, fumante há 16 anos.
Uma das medidas mais eficazes, nesse caso, seria mostrar argumentos pró e contra o cigarro, apresentando uma fonte confiável, o que facilitaria o processo de identificação por parte do fumante.
- É bom que haja uma confiabilidade na fonte de informação. Podem ser figuras que estão em evidência, como o caso da artista que se afastou de uma novela por ter um câncer no pulmão causado pelo cigarro, explica Teresa.
As novas imagens ainda não podem ser encontradas nos maços de cigarro, pois as embalagens não foram modificadas. Segundo a professora Rejane, pela legislação, a indústria tabagista tem o prazo de nove meses para implantar as figuras.
Entrevista
JORNAL DA PUC: Como foi feito o convite para esse trabalho?
Rejane Spitz: Fui convidada pelo Inca, em dezembro de 2006, e começamos a fazer reuniões para discutir o assunto. Chamei o professor Nilton Gamba para fazer parceria comigo e montamos uma equipe de design, mas só começamos a trabalhar em janeiro de 2007.
JP: Como foi o processo de desenvolvimento das imagens?
Rejane: Houve toda uma pesquisa desenvolvida ao longo de meses com o Inca e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a equipe da UFRJ e outra da UFF. O Inca nos deu a temática e, a partir disso, produzimos várias alternativas para cada tema e apresentamos a todos os envolvidos na pesquisa e às pessoas que trabalham no Disk Pare de Fumar, para que eles nos dessem suas opiniões e nos orientassem.
JP: Qual o propósito de fazer imagens fortes para as embalagens de cigarro?
Rejane: O maço de cigarros é o invólucro da droga, é o momento último em que ainda se pode dizer à pessoa que está segurando aquele produto que aquilo vai fazer muito mal. Então, nesse momento, deve-se enfatizar o aspecto negativo do fumar. Em outras mídias pode-se enfatizar o ganho que se tem ao parar de fumar, mas, nesse momento, é fundamental trabalhar a aversão que se deve dar ao produto.
JP: Como foi a reação das pessoas em relação às imagens?
Rejane: Foi enorme. Recebi e-mails de vários países com links de tudo o que saiu nos jornais do mundo inteiro. O representante da Organização Mundial de Saúde, que assistiu à apresentação da campanha, nos pediu para usá-las como exemplo no mundo todo.
JP: Qual foi a maior dificuldade de fazer esse trabalho?
Rejane: Foi desenvolver um trabalho para um público-alvo que é muito diverso, com diferentes níveis de educação, tudo isso em uma escala tão reduzida. Eu ficava imaginando que qualquer barzinho de beira de estrada de todo o Brasil ia ter contato com o nosso trabalho e essa pessoa tinha que ler aquilo, a mensagem tinha que ser compatível com seu repertório cultural.
JP: O que isso representa para o Departamento de Artes e Design da PUC?
Rejane: É um grande orgulho, porque é a primeira vez que o Departamento está envolvido nesse trabalho. A gente aqui tem um foco muito voltado para a responsabilidade social do Design. Essa parceria do Ministério da Saúde com o Departamento de Artes e Design, não só da PUC, como de outras universidades, já devia ter sido desenvolvida há muito tempo. Nós, designers, temos uma capacidade incrível de atuar nessas áreas prioritárias de educação e saúde, mostrando caminhos que podem ser mais eficientes. Então, o maior orgulho é que esse trabalho vai ter uma repercussão mundial.