Pequim, uma das cidades mais poluídas do mundo, será a sede dos próximos jogos olímpicos. Apesar dos esforços do governo chinês para reduzir os níveis de poluentes na atmosfera – foram gastos US$17 bilhões na última década – o ar continua classificado como “perigoso”. A média anual de poeira na cidade supera em mais de 100% o nível considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde. O estado alarmante da poluição pode colocar em risco a saúde dos atletas e comprometer seus resultados.
Ciente da gravidade do assunto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu que existe risco à saúde dos atletas que irão participar de provas de resistência, como maratona, triatlo, ciclismo e marcha atlética. “Para as provas ao ar livre, que exigem pelo menos uma hora de esforço físico contínuo em alto nível, as investigações conduzidas pelo COI indicaram que há algum risco”, afirmou a nota oficial divulgada pela entidade.
A preocupação é tamanha que o recordista mundial da maratona, o etíope Haile Gebreselassie, já anunciou que não vai participar dos jogos por causa da poluição. Segundo o atleta, que é asmático, correr a maratona em Pequim seria praticamente um "suicídio".
Segundo Carlos Alberto de Barros Franco, professor titular do curso de pneumologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, realmente existe perigo para os atletas asmáticos. “Um esportista que sofre de asma brônquica, mesmo bem preparado, pode apresentar uma crise se exposto a ambientes com alto índice de poluição”. De acordo com o médico, até mesmo os atletas que não apresentam problemas de saúde podem ter a performance comprometida.
– O desempenho de qualquer pessoa que pretenda praticar exercícios físicos fica muito comprometido em ambientes com grandes níveis de poluição, pois durante a atividade física se produz uma entrada e saída de ar muito grande, o que coloca as vias aéreas em contato mais intenso com os poluentes da atmosfera. Sem dúvida o desempenho dos atletas pode ser prejudicado em ambiente com alta poluição ambiental, explica o médico.
A aluna Lara Teixeira, representante da Universidade nas olimpíadas, forma com Nayara Figueira o dueto da Seleção Brasileira de nado sincronizado. Para a atleta, a poluição não deve afetar o desempenho dos esportistas que disputam sua modalidade.
– Como o Cubo (centro aquático) é fechado, não teremos problemas com a poluição de Pequim. Estivemos na China em abril, no pré-olímpico, e não houve muitas dificuldades quanto a isso, mas a questão ambiental deve ser evidenciada para que o governo chinês tome consciência de que é urgente providenciar a melhora da poluição.
Em nota, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) afirmou que confia na qualidade da organização dos Jogos Olímpicos, e que está acompanhando os esforços do governo chinês para reduzir os níveis de poluição
Para tentar combater a poluição, a China – maior emissor de gases poluentes do mundo – anunciou diversas medidas. Os 3,3 milhões de carros que circulam por Pequim serão reduzidos à metade. Serão impedidos de funcionar caminhões-tanque e postos de gasolina que não possuam tecnologia de redução de poluentes. As dezenove fábricas da cidade que mais poluem terão que diminuir suas emissões em pelo menos 30%. Também serão interrompidas grandes obras de construção civil, que poderiam espalhar ainda mais pó na atmosfera de Pequim. Ainda existe um plano B, que prevê o fechamento de um número maior de fábricas durante os jogos.
A data de abertura dos jogos, 8 de agosto próximo (8/8/2008), não é apenas uma data que mostra a obsessão da China pelo número oito (segundo a tradição chinesa, ele simboliza a sorte). No mês de agosto, a concentração de poluentes diminui drasticamente.
As olimpíadas podem deixar um legado muito importante na China, algo bem maior do que estádios e centros esportivos. O país pode aprender a lidar com o desenvolvimento de uma maneira menos agressiva ao meio ambiente. Segundo uma pesquisa feita pela revista especializada Journal of Environment Economics and Management, se a política ambiental chinesa não mudar, a poluição causada pelo país será maior do que os cortes feitos pelo resto do planeta, seguindo a proposta do Protocolo de Kioto.
Edição 202