A diversidade de técnicas exploradas por Dalí – e que podem ser conferidas nas 150 obras em exposição no Centro Cultural Banco do Brasil até o dia 22 de setembro – não são uma novidade: o artista gostava de experimentar diferentes linguagens. A qualidade do traço do pintor também pode ser observado nas ilustrações para livros como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes e Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carroll.
A professora de estética da comunicação de massa da PUC-Rio Rosângela Nunes comenta que o surrealismo nasceu como um movimento que pretendia abranger todas as formas de arte. Assim, diz Rosângela, os artistas buscavam disseminar conceitos e ideias sem se preocupar em serem rotulados. Segundo a professora, todo grande artista desse movimento estava profundamente conectado com a atualidade.
– Nesta conexão com o presente, Dalí estava aberto a todas as novas linguagens que estavam acontecendo. Ele sabia usar a mídia a seu favor. Era conectado com o mundo da mídia, da comunicação, sempre de forma provocadora.
Rosângela ainda acrescenta que Dalí não via a publicidade como algo “terrível”. Para ela, o artista fazia o próprio marketing “de forma extraordinária”.
Professora de comunicação e literatura da PUC-Rio Giovanna Dealtry concorda que o artista soube usar a imagem a seu favor. De acordo com ela, a personalidade marcante do surrealista fez com que ele fosse criticado.
– Muitos afirmavam que ele reproduzia uma fórmula própria somente para vender. A própria imagem dele se torna uma persona muito artística. Ele soube usá-la, e percebeu isso no momento em que as obras de artes se tornaram uma mercadoria, um caráter assumido.
O professor e crítico de artes Fernando Cocchiarale afirma que o surrealismo é um movimento importante, que gerou alguns bons pintores. Para ele, Salvador Dalí, sem dúvidas, foi um artista significativo para o estilo, mas nomes como René Magritte se destacaram mais. Por outro lado, Cocchiarale aponta para o fato de que os surrealistas dividiam o cenário da época com os abstracionistas, como Pablo Picasso e Henri Matisse.
Rosângela explica que a obra do artista pode ser dividida em dois momentos. O primeiro, em que ele sofre por ter recebido o mesmo nome de um irmão que morreu. Este fato o fez sentir como se vivesse no lugar de outra pessoa e acarretou em problemas de impotência sexual em sua vida até cerca dos 30 anos.
– O fantasma do irmão aparece quase sempre. No quadro dos relógios derretidos, A Persistência da Memória, o tema não é o tempo cronológico, medido pelo relógio, mas o tempo psicológico, da lembrança, explorado pela psicanálise.
O segundo bloco tem um caráter metafísico. Quando ele explora a figura das Madonas. Neste, ele aflora todo o sentido religioso. Mas, conclui a professora, ele jamais perde contato com o erótico.
– As madonas mais belas e mais eróticas são as de Salvador Dalí.