Leninaldo Severino da Silva se aproximou, pela primeira vez, de uma roda de capoeira em Recife, Pernambuco, ainda adolescente. A princípio, a admiração se misturou com o medo. O canto e o ritmo dos instrumentos, junto com os movimentos rápidos – criados pelos negros vindos da África – o fascinaram. Aquele mesmo jovem, anos depois, se tornou o mestre de capoeira fundador do grupo Igualdade, mais conhecido como Camurça.
Em 1987, Camurça começou a trabalhar na Prefeitura do campus da PUC-Rio. Nesse período, conheceu o mestre Gilberto, do grupo Irmãos. Até então, a capoeira não lhe parecia uma escolha definitiva. Ele conta que o grupo Irmãos o incentivou a evoluir na capoeira e se tornar mestre. Hoje, como funcionário do Departamento de Engenharia Mecânica, desenvolve o projeto Vencer, com jovens do Parque da Cidade, Parada Angélica, Condomínio Minhocão, estudantes e funcionários da PUC.
Para ele, a capoeira não se limita a uma luta. “É um saber popular”, Camurça gosta de falar. Nas aulas, ele abre espaço para os alunos dialogarem sobre o aprendizado e aspectos históricos e culturais da capoeira. Essa prática pedagógica rende frutos. Jovens passam a ter uma vida saudável e perspectiva de futuro. É o caso do estudante Renato da Silva, de 21 anos, do 4° período de Administração. Ele conta que sempre quis fazer uma atividade física, mas a experiência com outros esportes não o agradou. Com 12 anos, começou a frequentar as rodas do grupo Igualdade e, desde então, viu melhorar a interação social.
– Estava em busca de esporte e algo coletivo. A capoeira me ofereceu isso. Em janeiro fui para Madri e tive vários amigos me esperando no aeroporto. Isso graças à capoeira – diz Renato.
O trabalho desenvolvido pelo grupo Igualdade, segundo Camurça, visa a ser um modelo real de transformação na vida das crianças e jovens que frequentam o projeto. Ele acredita que um mundo melhor é possível se a sociedade investir nas crianças e jovens.
– O que a criança precisa é de oportunidade. Se investirmos no esporte, saúde e educação, com certeza teremos um mundo melhor. A capoeira tem dado uma resposta muito boa para isso – afirma o mestre, com 20 anos de dedicação à educação popular.
Intercâmbio cultural
O português não é a única língua falada nas rodas de capoeira do grupo Igualdade. O espaço cultural no subsolo do Ginásio Ormindo Viveiros de Castro reúne, três vezes por semana, estudantes de diferentes nacionalidades.
Os alunos vêm aprender um pouco da cultura brasileira e também fazer amizades, como conta a aluna americana de Relações Internacionais Haley Kennard, de 20 anos. Segundo ela, participar das rodas de capoeira do grupo Igualdade a ajuda a fazer amizades no Brasil e conhecer melhor a língua portuguesa.
– A capoeira ajuda o aluno de intercâmbio a se integrar, porque é difícil nos primeiros meses haver interação – diz Haley, que está no Brasil há seis meses.
O Vencer atende hoje 90 pessoas entre alunos e funcionários da PUC, jovens e crianças de comunidades. As aulas são abertas e quem quiser participar pode comparecer ao subsolo do Ginásio Ormindo Viveiros de Castro, às segundas, quartas e sextas-feiras, das 12h às 13h ou das19h às 21h.
Edição 239