O título deste artigo e um trecho de uma canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, composta em memória de Edson Luis, estudante secundarista morto pela repressão, em 28 de março de 1968. Foi assassinado enquanto se preparava um protesto contra as péssimas condições do restaurante estudantil, o Calabouço. Coincidentemente, a missa de sétimo dia do estudante paraense, realizada no dia 04 de abril de 1968, ocorreu no mesmo dia do assassinato do ativista norte-americano Martin Luther King, militante na defesa dos direitos civis da população negra e que enxergava na não violência uma forma de reivindicação eficaz.
Na foto cedida por Evandro Teixeira para esta coluna está registrado o momento de barbárie e horror que sucedeu a missa de sétimo dia de Edson Luis. A morte do estudante tornou-se um símbolo contra a opressão e evidenciava a violência praticada pelo regime militar. No dia da missa compareceram centenas de estudantes, mães, artistas e intelectuais, alguns deles da PUC-Rio, transformando o rito fúnebre em ato de resistência contra o regime. Enquanto a cerimônia acontecia, já se podia ouvir a movimentação de policiais militares, soldados e o som estremecedor do helicóptero que sobrevoava a Igreja da Candelária.
Dispersar a multidão era o objetivo da tropa, e aqueles que saíam da igreja eram encurralados e espancados. No término da missa, como se inspirados pela futura canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, os padres que celebraram a missa tomaram partido do povo e deram-se os braços, formando um cordão de isolamento entre a truculência da polícia e a população indefesa. O que era para ser respeito e reverência a um companheiro injustamente morto transformou-se em desrespeito e violência contra a população. Até mesmo o direito à lembrança pareceu estar ameaçado. Porém, ninguém pode impedir a memória, que não se cala diante daquele corpo, nem consente no silêncio sobre a nossa história.
Igor Valamiel e Matheus Lima Targuêta
Núcleo de Memória da PUC-Rio