Em 20/12/1968 houve a formatura da primeira turma do curso de Jornalismo da PUC-Rio, que se graduou em separado à Faculdade de Filosofia. Consolidava-se a Reforma Universitária; haviam sido criados na Universidade os departamentos, entre eles o de Comunicação Social.
A turma, formada em plena ditadura, refletiu o seu tempo em suas escolhas: o patrono da turma foi Dom Helder Câmara, figura de destaque pelo enfrentamento à ditadura e que fora professor da PUC-Rio. O paraninfo foi o jornalista Alberto Dines, professor do curso de Jornalismo desde 1963, no qual criou as disciplinas de Jornalismo Comparado e de Teoria da Imprensa. Era então editor-chefe do Jornal do Brasil (JB).
Na noite em que foi anunciado o AI-5, em 13/12/1968, militares ocuparam as redações dos jornais para implantar a censura prévia. No JB revisaram as provas do jornal na sala do editor-chefe, Dines. No entanto foi impressa uma edição diferente da aprovada, propositalmente estranha, para “avisar ao leitor” de que havia algo errado: classificados invadiram as páginas do primeiro caderno, fotos apareceram fora de contexto. Em consequência, o jornal foi proibido de circular no dia 15/12/1968. Logo os jornais assumiram com o Governo um compromisso de autocensura com consequências até mais insidiosas do que a censura explícita e externa, ao introjetar nos jornalistas restrições que só ao longo dos anos foram rompidas.
O convite a Alberto Dines para ser paraninfo ocorrera muito antes da edição do AI-5. Agentes do Serviço Secreto da Marinha estiveram presentes durante a cerimônia de formatura e gravaram o discurso no qual Dines criticava duramente a censura aos jornais. Dois dias depois ele foi chamado a depor na Polícia Federal e preso na Vila Militar por alguns dias. A formatura foi registrada normalmente nos eventos no Anuário da PUC-Rio de 1968 e uma foto, com Dines na mesa ao lado do Reitor, publicada na seção sobre o Departamento de Comunicação Social.
Nem sempre as cerimônias de formatura são previsíveis e com significados restritos ao universo acadêmico.
Clóvis Gorgônio
Núcleo de Memória da PUC-Rio