As contradições que marcaram a sociedade durante os 21 anos que se seguiram ao golpe civil-militar passaram por dentro dos campi das universidades brasileiras. Em razão de suas ideias políticas, alunos e professores foram perseguidos, expulsos, presos e torturados; alguns professores foram aposentados compulsoriamente e outros exonerados; cursos encerrados; verbas de pesquisa cortadas.
O expurgo de professores ocorreu mais sistematicamente em 1964 e 1969, após a promulgação do AI-5 e do decreto 477, instrumento de repressão voltado para a educação que permitiu as expulsões dentro das universidades públicas sem nenhuma defesa prévia.
A liberdade estava cerceada e a PUC-Rio não passou incólume pelos conflitos desse período. Alguns militares eram professores dos cursos de Engenharia do recém-criado CTC e em todos os Centros havia quem apoiasse a ditadura, o que aumentava a pressão para que, também nesta Universidade, o decreto fosse colocado em prática. A PUC-Rio acolhera alguns professores das universidades federais, sobretudo da UFRJ. Tal decisão acirrou conflitos internos.
Em depoimento, o professor Carmelo, do Departamento de Educação, relata a "sessão memorável" do Conselho Universitário, ocorrida no início de 1969. Alguns conselheiros defendiam a suspensão dos contratos dos docentes oriundos da UFRJ. O consenso parecia impossível. Paulo de Assis Ribeiro, Assessor de Planejamento da Reitoria, ligou o retroprojetor e argumentou: "a Doutrina Social da Igreja é como este foco: há posições mais centrais, mais à esquerda e à direita; acima ou abaixo. Entretanto, desde que esteja dentro deste foco de luz, está de acordo com a doutrina. Não há, portanto, condição de se afastar um professor e pesquisador da PUC por razões do AI-5, sempre que suas opções políticas se coloquem dentro do foco abrangente da Doutrina Social da Igreja". Após intenso debate, o Conselho Universitário decidiu manter os professores.
Os tempos difíceis não impediram que a solidariedade e o sonho de dias melhores encontrassem formas de expressão.
Eduardo Gonçalves e Namíbia Rodrigues
Núcleo de Memória da PUC-Rio