A Companhia de Jesus teve papel axial no processo de colonização da América portuguesa, pois, muito além da imagem clássica da catequese dos indígenas, os inacianos foram edificadores de suportes materiais para que o domínio luso se concretizasse. Com a construção de colégios que garantiam a formação de novos religiosos e a dos colonos, dos engenhos que permitiam a manutenção do projeto missionário e dos aldeamentos que eram espaços de convívio privilegiado com os índios, os religiosos ampliaram e consolidaram o território para a Coroa, além de auxiliarem na manutenção da própria vida colonial.
Mas a prática catequética e pedagógica também resultou em suportes materiais significativos, pois tanto as cartas que ajudavam no conhecimento e administração colonial, a produção de gramáticas e dicionários para as línguas nativas foram instrumentos poderosos no contato com os indígenas e consolidação das referências europeias em solo americano. Nesse ponto, José de Anchieta é, talvez, o símbolo maior, pois foram dele as primeiras iniciativas e resultados, com seu esforço de sistematização da língua tupi-guarani que, ainda como manuscrito, circulou entre os missionários e foi, inclusive, utilizado na colonização espanhola, quando da constituição das Missões do Paraguai.
A produção de Anchieta, entretanto, não se destaca apenas pela primazia, pois sua obra ultrapassou a gramaticalização de uma língua desconhecida e alcançou a literatura, com a redação de poemas e peças teatrais, sendo as últimas importantes instrumentos evangelizadores entre os indígenas. Ontem, Anchieta se destacara entre os seus com seu compromisso e erudição, tendo atuado na América como missionário, reitor de Colégio e Provincial do Brasil. Hoje, se os historiadores da colonização geralmente contam com as fontes inacianas, José de Anchieta ainda se destaca pois abre o leque de possibilidades investigativas pelo volume e variedade de seus textos.