Reconhecendo a complexidade e urgência dos desafios atuais, os cientistas propõem no documento uma nova visão para a sustentabilidade global, a ser discutida na Rio+20. A declaração abre de forma categórica: "A investigação atual demonstra que a continuação do funcionamento do sistema Terra, que apoiou o bem-estar da civilização humana nos últimos séculos, está em risco." Os cientistas concluíram que o consenso está crescendo a respeito do surgimento de uma nova era planetária, o Antropoceno, determinada pelo impacto da atividade humana.
Na opinião da diretora de ciência política e ciências naturais da Unesco, Lidia Brito, co-presidente da conferência, esta é uma declaração para interligar globalmente as sociedades. "O tempo e os recursos naturais estão escasseando. Precisamos mudar o rumo de alguma forma fundamental, e ainda nesta década ", afirmou a cientista. Para Mark Stafford Smith, co-presidente da Conferência, “começa-se a perceber que este novo estado da humanidade pode ser aproveitado para uma rápida inovação."
A declaração final conclui que uma sociedade altamente interconectada globalmente tem o potencial para inovar rapidamente, e destaca cinco iniciativas que devem servir como recomendações para a Rio +20: “A valorização do capital natural quando se mede o progresso; um novo quadro para o desenvolvimento de um conjunto de metas que levem à sustentabilidade global, inclusiva de todas as nações; o fortalecimento do Conselho de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para integrar a política social, econômica e ambiental globalmente; o lançamento de um novo programa de pesquisa internacional da Terra, Futuro, que irá se concentrar em soluções; e o início de regulares análises globais de sustentabilidade."
A plenária desta manhã contou, ainda, com a participação de palestrantes como a diretora geral da Unesco, Irina Bokova, o ministro inglês de Ciência e Universidades, David Willetts, que destacou a importância do intercâmbio mundial entre a comunidade científica, e com declarações gravadas do Secretário Geral da ONU, Ban Ki Moon. No debate, que reuniu cinco cientistas, Maria Ivanova, professora do Departament of Conflict Resolution, Human Security, and Global Governance e co-diretora do Center for Gorvenance and Sustainability de Boston, sugeriu como alternativa eficiente para difusão de uma atitude sustentável a adoção por parta das universidades de uma postura sustentável.
Encerrando as discussões da manhã, Shobnakar Dhakal, diretor executivo do Global Carbon Project, do Japão, discorreu sobre a construção de cidades sustentáveis. Segundo ele, o crescimento da população urbana e da poluição tem forte impacto na saúde e na favelização. Ao lado do alto nível de consumo das cidades, com grande pegada ambiental, são alguns dos grandes desafios nesta área. Dhakal aponta metas para tentar enfrentar essas questões – entre outras ações, reorientar investimentos no sistema de infraestrutura urbana; garantir qualidade para a urbanização, principalmente nos novos assentamentos; promover uma mudança de estilo de vida e ampliar o conhecimento das questões urbanas.
Ciência & sociedade
Os professores Maria Fernanda Lemos, do curso de Arquitetura do Departamento de Artes e Design, e Marcos Cohen, do Departamento de Administração, comentam os principais pontos do debate do último dia do “Planet Under Pressure”.
- Integração
principalmente no contexto dos países em desenvolvimento, onde a desigualdade socioespacial é uma característica perversa. A integração da cidade fragmentada é uma condicionante para a construção de cidades resilientes, resistentes, mas flexíveis, o que nos leva a refletir sobre a importância de priorizar a ideia de construção de uma “cidade desigualdade zero” sobre aquela, em evidência atualmente, de construção de uma “cidade carbono zero”, que enfatiza as questões ecológicas da sustentabilidade e coloca as questões sociais em segundo plano. A construção de uma “cidade desigualdade zero” exige integrar, reduzir pobreza, ampliar a estrutura e a infra-estrutura urbana e a distribuição justa de recursos urbanos.”
- Universidade sustentável
“É uma tendência mundial da integração da universidade como um centro de criação e troca de conhecimento por meio da educação e da pesquisa. É, na verdade, o reconhecimento de que a universidade tem um papel a cumprir na questão da sustentabilidade. Não é apenas uma questão de educar, de ensinar, mas sim de dar exemplo. Não adianta a universidade falar sobre questões ambientais para os alunos, se ela não trata do seu lixo, não preocupa com a questão da economia de energia. Quando se fala de um contrato da ciência com a sociedade, a universidade tem um papel fundamental, já que nela não apenas se produz a ciência, mas a sociedade civil também está presente.”
Plantão - Edição 253