O fato que melhor exemplifica esta realidade consiste na aporia atual entre a visão virtual e real dos problemas socioambientais, deixando um desconforto entre a linguagem política e a linguagem da ciência. Na recente Conferência Planet Under Pressure, em Londres, onde alguns professores da PUC-Rio participaram, evidenciou-se esta tensão permanente, onde os dados das ciências sobre a saúde do Planeta Terra, que fazem parte de uma realidade ambiental concreta e real, não são muitas vezes incorporados aos ideais do mundo das relações políticas, que estão mais voltados para uma realidade virtual.
Sem negar a importância das sucessivas conferências e acordos signatários voltados para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, e a busca constante de consensos e soluções concretas dos problemas em escala planetária, não podemos ignorar que os pífios resultados até hoje alcançados nas últimas Conferências mostram que as linguagens e posturas políticas estão mais voltadas para uma dimensão virtual e utópica, sobretudo no que diz respeito à sustentabilidade socioambiental. Por outro lado, a linguagem das ciências tem se revelado muito mais real no que tange às questões socioambientais. As desigualdades econômicas, os problemas de saúde pública, as incidências das doenças tropicais, o déficit em saneamento, os lixões etc, são questões sociais que continuam ocorrendo em escala planetária, sobretudo nos países pobres ou em desenvolvimento. Embora haja esforços de melhoria, a linguagem política virtual, calcada no desenvolvimento sustentável sem grandes mudanças, está mais voltada para um mundo ideal, onde algumas experiências pontuais são paradigmas de sucesso, escondendo a dura realidade vivida e vivenciada por milhões de pessoas. Na vertente ambiental, as ciências têm nos mostrado, através dos dados inquestionáveis das pesquisas, que os problemas relacionados com os recursos hídricos, a biodiversidade, a conservação dos biomas, as mudanças climáticas entre outros, são questões reais e sérias, merecendo uma atenção maior da sociedade, para não gerar consequências futuras danosas e irreversíveis ao planeta.
Para superar esta aporia entre o virtual da política e o real da ciência, é necessária uma aproximação entre catábasis e anábasis, ou seja, daquilo que vem de cima com aquilo que vem de baixo. A linguagem ideal de cima, que possibilita o virtual, deve estar mais próxima da linguagem real de baixo, onde a concretude dos problemas não pode ser ignorada.
Certamente os resultados da RIO+20 serão mais promissores se os dados reais das ciências fizerem parte da pauta das discussões políticas, evidenciando e potencializando as experiências concretas de sustentabilidade comprometidas com o desenvolvimento social, assim como as ações exitosas voltadas para a preservação ambiental num cenário de mudanças climáticas globais. Oxalá que a nossa tão esperada Conferência seja um momento de aproximação maior entre o virtual e o real, respondendo melhor aos anseios da sociedade.
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, SJ
Reitor da PUC-Rio
Edição 254