Uma das coisas que mais enobrecem a ética mundial é quando se consegue um mínimo de consenso em decisões de interesse comum, superando ideologias, nacionalismos e diversidade de opiniões. O chamado Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, celebrado em 2015, e assinado por 195 países, é um exemplo desse difícil consenso que consistiu em um passo importante para o planeta Terra, nossa casa comum. Neste compromisso global estava a esperança de todos os povos em unir esforços para buscar soluções inteligentes que possam impedir um aumento da temperatura da Terra, que traria consequências sérias para os biomas e a população mundial, sobretudo em países mais pobres. Ali foi também uma opção solidária, em compartilhar os recursos para enfrentar os problemas que afetam a todos, tanto ricos como pobres. Como tive oportunidade de participar representando a PUC-Rio, percebi as dificuldades desse consenso, como também a abertura para novas tecnologias mais limpas e sustentáveis, onde alguns países avançaram de maneira considerável. O ambiente da conferência sobre o clima, apesar das tensões e perplexidades, carregava um desejo de quebrar barreiras e superar diferenças, sobretudo diante de uma questão tão relevante para a humanidade.
Desafiando a ciência, desprezando os apelos internacionais, tanto de lideranças políticas como religiosas, não ouvindo o clamor profético de pessoas e organizações sociais que lutam pelos direitos humanos e ambientais, ignorando as consequências para as gerações futuras, e caminhando na contramão de grandes empresas que investem em tecnologias limpas, fomos surpreendidos pelo retrocesso do abandono do Acordo de Paris pelo Presidente dos Estados Unidos. Por razões egoísticas, nacionalistas e não convincentes, o chefe de uma nação, que se orgulha em ter as melhores universidades e as grandes inteligências do mundo, resolve romper com compromissos mundiais, provocando dissenso e indignação no seu país, e na comunidade internacional. Ao quebrar este acordo, esquece-se daquilo que o Papa Francisco afirmou na Laudato Si´, ou seja, que o clima é bem comum de todos e para todos, cujas mudanças climáticas é um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas. A saída de uma nação de grande peso mundial não deixa de enfraquecer os cumprimentos das metas do Acordo de Paris, embora fortaleça os laços de união de outros países, que agora assumem protagonismos mais fortes, ganhando credibilidade internacional.
O que mais nos impressiona é a postura monocrática e pouco solidária em questões relevantes e de interesse global, desafiando as conquistas e os avanços científi cos e socioambientais, onde a racionalidade econômica parece imperar sobre outras racionalidades, justamente no momento em que a humanidade procura unir esforços diante de temáticas de interesse comum, onde uma nação isolada não consegue responder aos grandes desafios globais. O não compromisso com a causa global do clima não constitui apenas numa irresponsabilidade com o todo, mas também uma quebra de aliança no sentido teológico, social, e das relações internacionais. A escala ética dos problemas socioambientais supõe pensar e agir no local e no global, pois estas atitudes estão inter-relacionadas. Como a humanidade já conquistou muitos avanços na área ambiental, tudo leva a crer que retrocessos pontuais não devem enfraquecer as conquistas e esforços assumidos e divulgados planetariamente.
Como tais avanços foram plasmados no bem comum, e no desejo de buscar soluções inteligentes e sustentáveis para o planeta, cuja natureza foi ferida pela ambição humana desmedida, vamos continuar lutando para manter a dignidade da obra que o Criador colocou em nossas mãos para ser cuidada e administrada com sabedoria e responsabilidade.