É tempo de transformação no campus
11/10/2023 19:48

Série Especial: Entrevista com os Vice-Reitores

NAI vai ajudar alunos a terem experiência acadêmica mais positiva (Fotos: Kathleen Chelles)

O JORNAL DA PUC começa a publicar esta semana uma série de entrevistas com os Vice-Reitores. Eles estão elaborando e implementando ações que vão modernizar a Instituição e adequá-la aos novos tempos. A missão de todos é pensar o futuro da Universidade em conexão com as demandas da sociedade. O primeiro entrevistado é o professor Luiz Fernando Martha, Vice-Reitor de Infraestrutura e Serviços.

Martha, 68 anos, é engenheiro civil formado pela PUC-Rio, em 1977. PhD em Engenharia Estrutural, ele foi coordenador de Projetos de Pesquisa do TECGRAF, Coordenador Central de Planejamento e Avaliação, Coordenador Central de Infraestrutura e Vice-Decano de Graduação do CTC.

O professor Martha, como é carinhosamente chamado, teve uma participação muita ativa na criação do novo currículo de engenharia do CTC e desenvolveu o software educacional FTOOL, conhecido no mundo desde o início da década de 1990. É autor do livro best seller: “Análise de Estruturas: Conceitos e Métodos Básicos”. Atualmente, o Vice-Reitor tem sob seu comando três importantes diretorias: a de Engenharia, a de Infraestrutura de TI e a de Sistemas de Informação.

A Vice-Reitoria está trabalhando na reformulação do Plano Diretor do Campus. Por que é importante ter um plano atualizado?

 Prof. LUIZ FERNANDO MARTHA - Com a criação da Vice-Reitoria de Infraestrutura e Serviços (VRIS), a PUC-Rio passa a ter uma instância bem definida para responder aos desafios do planejamento arquitetônico, urbanístico e paisagístico do campus da Gávea. Os desafios são muitos, pois é necessário readequar várias intervenções realizadas desde a criação do campus na década de 1950. Devemos nos adequar às mudanças na legislação urbanística, às normas de segurança do trabalho, às normas do Corpo de Bombeiros, nas questões atuais de acessibilidade etc. Quando assumi a VRIS, no final do ano passado, o professor Otávio Leonídio, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), me auxiliou muito para definir as questões que devem ser tratadas no Plano Diretor do Campus. 

 

Vamos começar com a acessibilidade?

Prof. MARTHA - Esse é um tema central. Uma das primeiras medidas que tomamos, em conjunto com o Núcleo de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência (NAIPD), foi criar faixas de pedestres com piso tátil ao centro. Isso foi apenas o início. A ideia é estender as faixas para todo o campus. Entretanto, a questão da acessibilidade envolve vários outros aspectos que devem ser considerados, inclusive um novo projeto de sinalização do campus. Estamos tratando disso tudo.

Em conjunto com o NAIPD, o Vice-Reitor instalou faixas de pedestres com piso tátil

Existem vários espaços na PUC para a convivialidade. O que deve se levar em conta no uso e modificações desses lugares?

 Prof. MARTHA - É fundamental deixar espaço para ocupações e usos espontâneos de parte sobretudo dos alunos. Temos a mão sensível do Escritório Modelo de Arquitetura do DAU, que projetou as arquibancadas nos pilotis do Ed. Cardeal Leme. As arquibancadas foram imediatamente apropriadas pelos alunos, sempre de modo informal. A Arena Junito Brandão é outro exemplo: é ótimo ver a alunada tirando uma soneca ali depois do almoço! Os eventos e manifestações (políticas, inclusive) que, há décadas, ocorrem nos nossos pilotis e na Vila do Diretórios são também testemunho disso, constituindo uma marca registrada de nossa Universidade, que pulsa e se reafirma em todas essas ocasiões. Há novas mesas no bosque e até balanços para os alunos, funcionários e professores descontraírem nas horas vagas. Novos mobiliários externos em concreto armado estão sendo projetados em conjunto pelos Escritórios Modelos de Design e de Engenharia Civil. Tem muito a ser feito ainda e alguns pontos a serem corrigidos. Por exemplo, no começo dos anos 2000, um dos lugares mais gostosos de ficar na PUC-Rio era a borda dos canteiros laterais dos pilotis da Ala Kennedy. Até que um dia alguém resolveu tornar isso impossível, implementando um típico elemento de “arquitetura hostil”.  Temos que corrigir isso.

Não deve ser simples fazer da Universidade um local sustentável, não é?

Prof. MARTHA - Dado o momento de crise ambiental em que vivemos, precisamos valorizar os elementos naturais do campus, por exemplo: o rio Rainha, a arborização, as encostas etc. Devemos também racionalizar as construções, prestando atenção aos processos e aos materiais construtivos, e o uso de energia. Um ponto muito importante é o manejo das áreas verdes para um campo sustentável, que inclusive se estabeleça no ranking dos “selos” Laudato Si´ e UI GreenMetric. Esse manejo prevê uma série de processos que se direcionam a um campus biodiverso que sirva de referência em restauração e recuperação ecológica. Este processo iniciou-se há muitos anos com o plantio de espécies nativas de Mata Atlântica, incluindo espécies raras e em extinção, além de zelar pelos processos ecossistêmicos que nosso bosque desempenha. 

 

Também há preocupação com a gestão de resíduos? 

Prof. MARTHA - Existe uma agenda de boas práticas ambientais desenvolvida e implementada em diversos setores, como por exemplo a gestão de resíduos do campus. Muitos processos ainda estão sendo e serão implementados nessa direção, entre eles o incremento de biodiversidade, segurança das encostas, manejo da fauna, despoluição e renaturalização de trechos do rio Rainha e eficiência energética. Entre essas ações, o Núcleo Integrado de Meio Ambiente (NIMA) acabou de terminar o inventário de espécies vegetais do campus, com descobertas que nos conduzem à posição de campus mais biodiverso do Rio de Janeiro. Nesta direção, o manejo de nosso bosque de Mata Atlântica prevê o plantio de mais espécies nativas. E mais: vamos incrementar e restaurar a mata ciliar do rio Rainha, protetora das encostas da calha fluvial que corta o campus e o adensamento das espécies no setor da encosta em direção ao Túnel Acústico. No que tange à questão das espécies exóticas (não nativas) do campus, está prevista a substituição gradual dessas espécies por nativas e a recuperação do bosque nativo.

 

Luiz Fernando diz que é ótimo ver a alunada tirando uma soneca no Anfiteatro depois do almoço

Como a VRIS procura valorizar o patrimônio arquitetônico da Universidade? 

Prof. MARTHA - O campus da PUC é excepcional no todo e na parte. Além de reforçar e valorizar alguns aspectos fundamentais do campus-parque, com edifícios mais ou menos isolados, separados por vazios com qualidade paisagística-ambiental, cabe valorizar e dar destaque à qualidade do nosso excepcional patrimônio arquitetônico. A esse respeito cabe destacar o Solar Grandjean de Montigny, uma joia da arquitetura neoclássica brasileira, tombado pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Temos outras joias arquitetônicas de épocas e estilos diversos. Exemplos são nossos edifícios modernistas Cardeal Leme, Kennedy e Frings, projetados pelo arquiteto Edgar Fonseca, com seus estupendos pilotis. Edgar Fonseca foi professor da PUC-Rio e projetou, entre outros, a Catedral Metropolitana e a Igreja de São José da Lagoa. Tem também a Vila dos Diretórios, cujo lado das casas dos diretórios é protegido pela Prefeitura do Município, e o edifício do Rio Data Centro (RDC), projetado pelo arquiteto Carlos Pingarilho. É preocupação nossa que qualquer novo edifício a ser construído em futuras expansões terá que “conversar” com essas joias arquitetônicas.

 

Teremos finalmente um auditório na PUC-Rio?

Prof. MARTHA - Sim, teremos. Mas é temerário dar início a qualquer intervenção sem antes proceder a uma atualização do plano de massas / plano diretor. Nesse sentido, a VRIS criou o Grupo de Trabalho (GT) do Plano Integrado do Campus Principal da PUC-Rio. Um dos grandes desafios é pensar a integração sobretudo do setor leste do campus, hoje inteiramente apartado do restante do campus. Isso se dá muito em função da obra inacabada da estação Gávea do Metrô. O fato é que tanto o Edifício Padre Laércio quanto o Ginásio permanecem alijados do resto do campus. Integrar esse setor ao restante do campus, visualmente sobretudo, é um grande desafio a ser perseguido, considerando também a criação de um auditório no caminho. 

É verdade que o sonho da Vice-Reitoria é acabar com os carros no campus?

Prof. MARTHA - Sim, queremos criar um estacionamento na área da estação do Metrô, depois de acabada, é claro. E construir uma praça no mesmo nível dos pilotis sobre o estacionamento. Com isso conseguiríamos outro grande sonho, que é retirar a circulação de veículos de dentro do campus. Há que se considerar também a integração da extremidade oeste com o restante do campus, levando em conta que existe outra intervenção do Metrô, que é um túnel de ventilação ao qual teremos sempre que dar servidão de acesso.

 

Qual é o papel do grupo de trabalho do Plano Integrado do Campus Principal? Profissionais de que áreas vão compor a equipe?

Prof. MARTHA - O papel do GT do Plano Integrado do Campus é, principalmente, elaborar, documentar e divulgar o plano de massas / plano diretor do campus, considerando aspectos de acessibilidade, convivialidade, sustentabilidade, patrimônio e integridade física e visual. O GT vai trabalhar na adequação de novas expansões e intervenções arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas do campus da Gávea com o plano diretor. Está previsto que novas intervenções de grande porte terão que passar por uma ampla discussão com a comunidade, de preferência através de concursos de equipes de professores e alunos de diversas áreas. Não existem prazos para definição de novas intervenções, pois dependem de financiamento, principalmente através de captação de recursos de entidades externas. Mas é importantíssimo preparar o plano diretor justamente para estar capacitado para essa captação. Outra atividade do GT é assessorar a VRIS, através do Diretor de Engenharia do Campus, professor Moisés Szwarcman, no plano de readequação do plano diretor do campus com os órgãos competentes nos níveis municipal, estadual e federal. Além de mim, fazem parte do GT os professores Felipe Rangel Carneiro (Assessor para Planejamento do Espaço Físico), que coordena o GT, Jakeline Prata de Assis Pires (Diretora do Depto. de Biologia), Marcelo Motta (Diretor do NIMA), Marcos Favero (Diretor do Depto. de Arquitetura e Urbanismo), Moisés Szwarcman (Diretor de Engenharia do Campus da VRIS), Rachel Coutinho Marques da Silva (Depto. de Arquitetura e Urbanismo). Outros professores, e também profissionais externos, têm sido consultados na elaboração do plano de massas para depois evoluir para o plano diretor.

 

De que maneira os atendimentos ficarão mais ágeis a partir da criação do Núcleo de Acolhimento Institucional (NAI)?

Prof. MARTHA - O Núcleo de Acolhimento Institucional da PUC-Rio é uma unidade organizacional da VRIS que tem a responsabilidade de fornecer suporte e atendimento aos alunos em questões acadêmicas e administrativas. O objetivo é ajudar os alunos a terem uma experiência acadêmica mais positiva e a alcançarem seus objetivos educacionais. Com isso, a missão do NAI visa garantir um ambiente inclusivo e acolhedor, onde os alunos se sintam seguros para demandarem suas solicitações na certeza de que o Núcleo, em colaboração de outras áreas da Universidade, principalmente com a RAE – Rede de Apoio ao Estudante, que vai garantir um atendimento pleno e em conformidade com as normas, valores e princípios da PUC-Rio. O NAI já funciona no andar térreo que era ocupado pela CCAR (Coordenação Central de Admissão e Registro – antiga DAR), mas a infraestrutura definitiva do NAI está em fase final de implantação e deve estar finalizada até março de 2024. Um dos objetivos do NAI é dar atendimento de primeiro nível para todas as unidades acadêmicas e complementares da PUC-Rio e, se for necessário, encaminhar o aluno e o processo para as unidades competentes. Por meio do atendimento é que se estabelece a comunicação entre a instituição e seus estudantes. E pode contribuir para a satisfação dos estudantes, para a sua permanência na Universidade, além da melhoria dos índices de conclusão de curso. Por isso, a equipe está sendo aprimorada. A ideia é que o NAI também funcione como uma central de informações, de maneira que tanto alunos e seus representantes, quanto o público externo, sejam direcionados para o NAI para obter as informações desejadas.

O senhor poderia explicar melhor como funciona o Escritório de Processos ? 

Prof. MARTHA - O atendimento ágil do NAI, e de qualquer outro processo, depende de uma melhoria substancial nos sistemas de informação e na infraestrutura de TI. Nesse sentido, a VRIS, através da Diretoria de Sistemas de Informação, dirigida por Gustavo Miranda, e da Diretoria de Infraestrutura de TI (ex-RDC), dirigida por Paula Cyrillo, tem trabalhado com afinco para agilizar todos os processos acadêmicos e administrativos da Universidade. A integração de equipes por si só já traz enormes benefícios e, com a criação do Escritório, todos os processos estão sendo revisitados e otimizados. Até o final deste ano serão anunciadas melhorias em diversos processos acadêmicos e administrativos, e também na infraestrutura de TI. Um ponto crucial é a melhoria na iluminação no sinal de wi-fi no campus. 

 

Quais as prioridades da Vice-Reitoria para a modernização dos laboratórios e salas de aula?

Prof. MARTHA - O ensino no século XXI evoluiu para metodologias baseadas em projetos/solução de problemas, práticas em sala de aula combinadas a atividades de campo e a distância, e uso mais intensivo de laboratórios para simulações práticas e virtuais. A infraestrutura dos laboratórios e salas de aula da Universidade precisa acompanhar essa evolução. Nesse sentido algumas salas de aula convencionais serão substituídas por salas de aula com ambiente de trabalho de projetos em equipe, a exemplo do que já temos para o Curso de Arquitetura e Urbanismo e para o Domínio Adicional em Empreendedorismo. Também temos vários laboratórios de computação para ensino, e a ideia é ampliarmos a oferta com laboratórios, abertos a todos os alunos, adotando um layout dirigido a trabalhos orientados por professores e monitores em tempo de aula e fora do horário de aula. Obviamente, essa infraestrutura depende de recursos e tempo de implantação, mas esse é o direcionamento dado em conjunto pela Vice-Reitoria de Ensino e Pesquisa, pela Vice-Reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica e pela Vice-Reitoria de Infraestrutura e Serviços.

 

Haverá investimentos nos laboratórios?

Prof. MARTHA - Está prevista ainda uma melhoria nos laboratórios de ensino e pesquisa nos pilotis do Edifício Cardeal Leme e nos laboratórios de computação do RDC, buscando também uma mudança no aspecto visual desses laboratórios, que devem funcionar como “vitrines”.

 

O Núcleo de Governança de Segurança, Informação e Privacidade de Dados cuida da LGPD, lei que a Universidade precisa seguir. Que medidas a PUC-Rio está tomando para esclarecer a comunidade?

Prof. MARTHA - Uma das medidas tomadas está justamente na criação do Núcleo de Governança de Segurança da Informação e Privacidade de Dados (NGSIPD). A criação do Núcleo é muito recente e tem por objetivo a coordenação da segurança da informação e da privacidade de dados pessoais para assegurar a conformidade dos processos da organização com as diretrizes da Política de Segurança da Informação e da Política de Privacidade de Dados da PUC-Rio. A Circular da VRIS para a criação do NGSIPD será publicada ainda em outubro. Uma das primeiras medidas a serem estabelecidas pelo Núcleo será definir uma campanha de conscientização da comunidade e de divulgação das medidas e atitudes que devem ser praticadas.

 

Quais outras iniciativas da Vice-Reitoria poderiam ser adiantadas?

Prof. MARTHA - A Universidade recentemente está expandindo para a área de Saúde. O curso de graduação em Nutrição teve seu início no primeiro semestre 2023 e, como é sabido, a PUC-Rio deu mais um passo para a concretização da sua graduação em Medicina. O Reitor Pe. Anderson Antonio Pedroso, S.J. e o Frei Francisco Belotti firmaram um acordo que consolida o Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, como hospital-escola da Universidade. Dentro dessa parceria, a VRIS e a VREEP estão planejando atividades de extensão relacionadas a diversos cursos no Hospital São Francisco. Outros cursos na área de Saúde estão sendo previstos. Como princípio básico para implantação é que as aulas ocorram preferencialmente no campus da Gávea, pelo menos nos primeiros anos do curso. A VRIS está envolvida na criação da infraestrutura necessária para esses novos cursos. Alguns laboratórios existentes no campus de Química e Biologia serão compartilhados e melhorados. Outros laboratórios serão criados, como é o caso do Laboratório de Processamento de Alimentos que está em fase de projeto e será implantado até o final do primeiro semestre de 2024 no Instituto Matteo Ricci. Estão previstas diversas outras intervenções futuras tanto no Matteo Ricci quanto no Hospital São Francisco.

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