Campanha da Fraternidade: biomas pela defesa da vida
28/05/2017 17:05
Thaís Silveira

CNBB alerta para o valor de cuidar dos ecossistemas do país e fazer uma religação do homem ao espaço natural.

O Parque Estadual dos Pireneus, na região Centro-Oeste, é uma área de preservação no Cerrado, um dos biomas mais desmatados do Brasil. Foto: Jonathan Wilkins sob licença goo.gl/A2TsiH


Com o objetivo de cuidar da biodiversidade brasileira e estabelecer relações com a cultura de povos locais, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elegeu como tema para a campanha deste ano Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida. A ação alerta para os impactos socioambientais causados pelo homem. E com o lema Cultivar e Guardar a Criação, a iniciativa reforça o compromisso de preservar os ecossistemas.

Segundo a coordenadora do Departamento de Ciências Biológicas, professora Rejan Rodrigues Guedes-Bruni, os biomas podem ser definidos como espaços geográficos de grandes dimensões que têm um padrão de macroclima e de fitofisionomia, que é a forma como a vegetação se expressa. Além disso, um conjunto de fatores, como solo e relevo, estabelecem um bioma. Rejan destaca que o interessante da campanha da CNBB é fazer uma religação do homem ao espaço natural.

– O homem moderno vai nos afastando da comunicação sensível. Mas não existe uma dissociação entre ele e o meio ambiente. Compartilhamos uma natureza forjada há centenas de milhões de anos. O homem é parte e não à parte dela.

O Rio Madeira, na região Norte do país, é um dos afluentes da maior bacia hidrográfica do mundo. Foto: Renato Gaiga sob licença goo.gl/A2TsiH 


No Brasil, são seis biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. A Amazônia é um bioma florestal que abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, enquanto o Cerrado é reconhecido como a savana mais rica do planeta, com quase 12 mil espécies de planta. Dez estados são ocupados pela Caatinga, que reúne quase 1.500 espécies animais. A Mata Atlântica é um conjunto de formações florestais reconhecido como Patrimônio Nacional. As paisagens do Pampa variam de serras a planícies, e o Pantanal é uma das maiores extensões úmidas do planeta.

O Reitor da PUC, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., explorou a espiritualidade presente nos biomas em palestra que uniu saber e sabores do Brasil, no Centro Loyola de Fé e Cultura, no dia 5 de abril. Foram apresentadas comidas típicas de cada bioma, para mostrar a diversidade das regiões. Nesse coquetel ecológico, o Reitor destacou os simbolismos presentes na natureza e as lições que podemos tirar dela. Ao comentar sobre a Caatinga, ele usou o juazeiro, que mantém os frutos na seca.

– Estruturas interiores profundas nos fazem florescer. Assim é possível sobreviver às adversidades. Os estados de consolação e desolação são parte da vida. Se não tivermos reservas espirituais, como viver?

Nessa leitura, padre Josafá também utilizou os biomas para ressaltar que devemos ter esperança diante do sofrimento e capacidade de rebrotar, assim como a natureza.

– Precisamos segurar a corda da fé. Ela deve ser estendida e, assim, vamos caminhar juntos, de mãos dadas.

O Reitor da PUC, padre Josafá Carlos de Siqueira S.J., os professores Rejan Rodrigues Guedes-Bruni, Bernardo Strassburg e Agnieszka Latawiec. Fotos: JP Araújo e Fernanda P Szuster


Dentro dessa perspectiva, a preocupação com o desmatamento é crescente. O professor Bernardo Strassburg, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, coordenou um estudo que foi publicado na revista Nature Ecology & Evolution. O artigo Moment of thuth for the Cerrado hotspot alerta para a extinção de espécies no Cerrado e propõe soluções para o problema. Segundo ele, a pecuária corresponde a 75% da área destinada ao agronegócio no Brasil, e esse espaço é muito mal utilizado. A questão, observa, é usar de forma eficiente as áreas já desmatadas.

– O país tem, em média, uma vaca por hectare, quando poderia ter três. A chave para conciliar o agronegócio e o desenvolvimento sustentável é expandir a agricultura para as áreas de pecuária – afirma.

Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), comenta que se fala muito sobre a Amazônia, mas o Cerrado e Mata Atlântica são biomas mais ameaçados. Os dois são considerados hotspots brasileiros – áreas com grande biodiversidade que já perderam muita extensão. Ele ressalta que o desmatamento pode causar uma série de problemas locais, como erosão do solo e deslizamentos de terra, além de comprometer a qualidade do ar e desregular o clima. A falta de vegetação também causa crise hídrica, uma vez que a absorção de água da chuva diminui. E há consequências globais, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.

– Não importa onde uma queimada está acontecendo. Afeta a todos. O desmatamento no Cerrado, por exemplo, não é um problema só brasileiro.

A professora Agnieszka Ewa Latawiec, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, que também participou do estudo sobre o Cerrado, afirma que se deve pensar de forma sistêmica, porque uma alteração em um bioma se reflete nos outros. Além disso, ela acredita que é importante colocar em prática pesquisas de sucesso a fim de preservar os recursos do país. E frisa como é importante que haja fiscalização para respeitar os limites do ambiente.

– O volume de vendas de agrotóxicos no Brasil é preocupante, por isso é importante ter controle por lei. Também falta conscientização das pessoas. Por isso, é importante aplicar os estudos de sucesso.

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