Refugiados lecionam em curso de idiomas
16/05/2016 16:17
Gabriele Roza/ Fotos: Divulgação

Crescem em 300% os pedidos de refúgio no Rio de Janeiro

Professores ministram aula de cultura árabe

Viajar sem sair de casa, conhecer culturas e compartilhar experiências em um curso de idiomas, cujos professores são refugiados. A ideia surgiu em São Paulo e chegou ao Rio de Janeiro neste semestre pela iniciativa da organização não governamental (ONG) Atados, em parceria com a Cáritas Arquidiocesana RJ. Com a ajuda de mais de 30 voluntários, o curso Abraço Cultural fornece oportunidade de trabalho para refugiados de países como República Democrática do Congo, Haiti, Nigéria, Cuba e Síria. E, por outro lado, oferece cursos de francês, inglês, espanhol e árabe, além de vivenciar música, história, política e festas típicas dos diferentes países. O curso funciona na Casa de Cultura Habonim Dror, em Botafogo.

De acordo com a Cáritas Arquidiocesana RJ, o número de refugiados aumentou no Rio de Janeiro. A quantidade cresceu quase 300% em três anos: de 1.542 em junho de 2012 para 5.998 em 2015. São pessoas de mais de 80 países que fugiram de perseguições políticas, religiosas e guerras civis. Um relatório divulgado pela Cáritas, no dia 19 de abril, mostra que, no primeiro trimestre de 2016, 210 refugiados chegaram ao Estado do Rio de Janeiro. Em 2015, o número alcançou a marca de 834. Os dados representam um aumento considerável no fluxo de refugiados no Rio.

O curso será ministrado em mais um local a partir de maio, no escritório Meu Rio, em Botafogo

 

Atualmente, o estado abriga refugiados vindos principalmente de países da África, da América Latina e do Oriente Médio. A coordenadora do Abraço Cultural no Rio, Tatiana Rodrigues, explica que a Atados percebeu a dificuldade dos refugiados de se estabelecerem no mercado de trabalho ao mesmo tempo em que constatou que eles falavam diversos idiomas, algo que poderia ser aproveitado a favor dessas pessoas. Com isso, houve a união da ideia de empregá-los com a oportunidade de ensinar outras culturas que se relacionam com uma língua.

– A ideia é fazer um curso de idioma diferente, em que a troca cultural é mais importante, a língua é o só um meio de fazer isso. É um absurdo uma aula de francês, por exemplo, não ter a cultura africana. Estamos animados em poder passar isso, a ideia é abraçar outras culturas, abrir a mente. Está sendo muito enriquecedor, os alunos estão gostando e os professores também. Abre as portas, dá oportunidade que dá certo.

Refugiado da República Democrática do Congo Chantrel Koko, 25 anos, está no Brasil há quatro anos e é professor de francês do Abraço Cultural no Rio. Ele fala sete línguas – português, inglês, francês, quatro línguas de seu país – e mais 13 dialetos. Koko cursa medicina na UFRJ, mas diz que é muito difícil para o refugiado conseguir emprego. Para ele, o Abraço Cultural é uma saída para o problema. Segundo Koko, muitos congoleses vêm para o Brasil para fugir da guerra e da situação política.

– O Brasil é um país que está de braços abertos para receber estrangeiros e estudantes. Agora que estou no fim da faculdade, ganhamos uma bolsa muito pequena, é impossível se sustentar no Rio de Janeiro. Normalmente, os pais nos sustentam, mas nem sempre podem. Então, temos que nos virar. E aí, acabamos tendo dificuldade de emprego. Meu sonho agora é terminar a faculdade e exercer minha função de médico.

Aluna de Engenharia de Nanotecnologia da PUC, Rafaela Carvalho gosta da experiência de ter aula de árabe com um professor refugiado. Ela afirma que sempre se interessou por falar árabe, mas nunca teve oportunidade de fazer o curso, já que só tinha encontrado no Consulado do Líbano.

– Aqui é um ambiente muito legal, eles estão permitindo uma troca cultural. Estou gostando bastante, o clima é bem mais relaxado. Criamos um vínculo com o professor. Rola uma troca, dele com a gente e da gente com ele.

O Abraço Cultural nasceu em julho de 2015. Após realizar a 1ª Copa do Mundo dos Refugiados, a Atados resolveu criar um projeto mais duradouro e que pudesse contribuir para a inserção dos refugiados na sociedade. Segundo a coordenadora Tatiana, o curso recebeu mais inscrições do que o esperado quando abriu as primeiras vagas em fevereiro. Por isso, decidiram abrir mais turmas, em maio, no escritório Meu Rio, em Botafogo.

– O espaço que temos para realizar o curso é cedido, por isso, não abrimos antes, mas agora conseguimos um novo espaço para abrir mais turmas. Estamos muito felizes com a grande procura por um curso em que a troca de experiência é mais importante. É muito bom ver que as pessoas querem ajudar e têm interesse pela causa dos refugiados.

Mais Recentes
Beleza a favor do ecossistema
Mercado de cosméticos veganos conquista consumidores que lutam contra a exploração animal
A voz que não pode ser calada
A liberdade de imprensa é considerada um direito social conquistado pelos profissionais da comunicação
Diplomacia na escola
Alunos da PUC participam da sexta edição MICC