Laudato si: o momento oportuno chegou
19/06/2015 16:01
Rocélia Santos / Fotos: Weiler Filho

Reitor da PUC-Rio comenta os principais pontos da nova encíclica do Papa Francisco, que faz um convite a toda a humanidade para uma conversão ecológica

Primeira Carta Encíclica sobre a ecologia, Laudato si (Louvado sejas) era aguardada com expectativa por diversos setores, católicos e não-católicos, que ansiavam por um pronunciamento oficial do Papa Francisco sobre os problemas ambientais da atualidade. A Carta foi lançada pelo Vaticano no dia 18 de junho. Apesar de outros pontífices citarem as questões em outros documentos, esta é a primeira vez que toda uma Carta é dedicada ao tema, e direcionada não apenas para bispos, religiosos e católicos, mas para “cada pessoa humana que habita esse planeta”. Entre os entusiastas para a escrita desse documento está o Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J..

Como biólogo, ambientalista e toda uma vida dedicada às questões socioambientais (além de ser sacerdote e jesuíta, mesma ordem religiosa do Papa Francisco), padre Josafá relata que, na visita oficial de Francisco ao Rio, em julho de 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ele manifestou o desejo, não apenas pessoal, mas de muitas pessoas da sociedade e da ciência, de uma palavra oficial do Papa sobre a questão ambiental. E ouviu de Francisco que o tempo oportuno para tocar no tema chegaria.

- Eu tenho um sentimento de muita alegria. Louvado seja vem em um momento muito especial, não só pela preocupação que há anos nós temos trabalhado. Há mais de 20 anos eu esperava que, um dia, isso fosse acontecer, uma palavra mais ampla da Igreja, não apenas voltada para as realidades locais, mas para realidades internacionais. E hoje nós celebramos esse tempo oportuno.
Para o Reitor da PUC-Rio, a encíclica é lançada em meio a um contexto social importante, em que há um misto de dois sentimentos presentes nas pessoas: o de frustração e o de esperança.

- Frustração porque o processo de degradação ambiental e a qualidade de vida social vêm se agravando em muitas partes do mundo, além da falta de consenso nas grandes convenções internacionais que tratam desses aspectos mais socioambientais. Mas também esperança de que, vamos encontrar consenso na COP 21. Esperança de quem sabe, com uma visita do Papa à ONU, possa haver um apelo internacional mais forte. Existe um momento de igreja muito especial, de um Papa que está convidando a Igreja a sair para fora e enfrentar os problemas sociais, ambientais, de um pastor que tem um papel extremamente importante como liderança internacional.

Entre as novidades da Laudato Si, o Reitor da PUC-Rio destaca o conceito de Ecologia Integral, citado pelo Papa Francisco. Para ele, um dos grandes problemas no mundo moderno é tratar a questão social separada da ambiental e vice-versa.

- Ele toca em temáticas extremamente importantes e inspiradoras, como quando ele fala da relação entre o espirito humano que deve encantar-se novamente pelo mundo criado, o homem como guardião da criação, aquele que recebe o dom, mas muitas vezes esquecemos dessa tarefa. É importante resgatar essa visão mais integradora, a dimensão de mudança de habito e de costume, o destino universal dos bens, o testemunho concreto da sustentabilidade.

Padre Josafá destaca a crítica que o documento faz à visão utilitarista. Segundo ele, o Papa Francisco afirma que a exploração excessiva da natureza chegou ao limite, que “o homem foi longe demais”, e ainda critica a soberania que se dá ao poder econômico em detrimento aos demais setores.

O jesuíta relembra ainda outro ponto de crítica do Papa Francisco, a “cultura do descarte”, que produz e descarta não apenas lixo, mas também pessoas. A problemática dos pobres, tão presente em quase todos os pronunciamentos oficiais do Pontífice, e a questão da degradação ambiental também foram pontos que chamaram a atenção do Reitor no documento.

- Ele usa questões que eu acho muito originais: ele diz que a desertificação é uma doença da terra. A extinção de espécies é uma mutilação da obra da criação. Chama também a atenção para as mudanças climáticas que estão acontecendo, e que as vitimas que mais sofrem com essas mudanças são os pobres. Ele fala também do desperdício de alimento, o mundo que produz muito alimento, mas que há uma cultura do desperdício, que é uma afronta à fome no mundo. Milhares de pessoas que não têm o que comer.

Padre Josafá acredita ser o momento oportuno de partir para ação e pensar em soluções que podem ser feitas diante do apelo do Papa. Ele destacou que a PUC-Rio, há anos, já promove iniciativas voltadas para a sustentabilidade, e afirma que vai organizar seminários e debates para aprofundar os pontos da Laudato Si na Universidade.

- Cabe a todos nós já pensarmos nas ações, em experiências locais que possam ser mais visibilizadas. O mundo precisa de outro reencantamento.

Laudato si, sobre o cuidado da nossa casa comum é a primeira encíclica escrita exclusivamente pelo Papa Francisco, pois a primeira Lumen Fidei (Luz da Fé), havia sido preparada por Bento XVI, antes de renunciar em 2013, e redigida a quatro mãos.

Encíclica é um documento oficial da igreja com peso magisterial, de ensino, dirigida a todas as pessoas. Laudato si faz referência a “Louvado sejas”, palavras contidas na abertura do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. Não é em latim, como costume, mas em italiano antigo. O documento está disponível em italiano, francês, inglês, alemão, espanhol e português. A encíclica pode ser acessada no site do Vaticano: www.vatican.va.
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