Arquitetura e fé pelas ruas do Rio
07/04/2015 17:13
Aline Ripoli / Foto: Pedro Myguel Vieira

Relíquias da cultura jesuíta ajudam a recontar o passado

Na foto acima, a beleza da decoração da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso

Primeira ordem religiosa a se estabelecer no Rio de Janeiro, a Companhia de Jesus deixou marcas na cidade. Além de catequisar e disseminar a religião católica, os jesuítas contribuíram para a conquista de terras e a fundação de um complexo arquitetônico no Rio. Alguns desses locais fizeram parte do roteiro do curso-tour Retrato de uma Cidade, conduzido pela historiadora Anna Maria Monteiro de Carvalho e promovido pelo Centro Loyola de Fé e Cultura no dia 21 de março.

Verdadeiros agentes construtores do espaço urbano, os jesuítas chegaram ao país em 1549, com o governador-geral Tomé de Sousa. A ideia era unificar o país, visto os resultados insatisfatórios do sistema de capitanias hereditárias. A fundação de um Governo-Geral tinha como objetivo reestabelecer o domínio português.

Primeira parada do passeio, a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, no Centro do Rio, guarda retábulos e o púlpito originários da Igreja de Santo Antônio de Loyola, do Colégio dos Jesuítas que havia no Morro do Castelo, demolido nos anos 1920. A igreja fica ao pé da Ladeira da Misericórdia, antigo acesso ao Morro do Castelo e, hoje, o único resquício do que foi aquela região, habitada, inclusive, pelos jesuítas. Anna Maria explica que foram feitas modificações nos retábulos, porque eles se danificaram com o tempo.

– Na primeira igreja dos jesuítas, nós supomos que o primeiro retábulo seria devotado a Nossa Senhora da Luz e seria um painel pictórico. Ao invés das tábuas, haveria um painel pictórico, e a pintura se arruinou com o tempo. Depois, talvez em um segundo momento, eles construíram o sacrário, que tem muito a ver com o sacrário da Bahia, por isso imaginamos que é uma mão posterior àquela que construiu o resto do retábulo.

Apreciadora da arquitetura jesuítica, a professora aposentada Marilda Teixeira já conhecia o interior da igreja, mas enalteceu a oportunidade de visitar as construções ao lado de uma especialista.

– Adorei a explicação sobre os retábulos. Todo o trabalho dos jesuítas, os detalhes que, mesmo entrando na igreja, se não tivermos uma orientação adequada, não vamos perceber. E também o Hospital Frei Antônio, que era uma curiosidade minha. Há muito tempo, desde que comecei a me interessar pelo Rio antigo, tinha vontade de visitar o hospital, mas não tive oportunidade.

Antiga sede da fazenda dos jesuítas, o Hospital Frei Antônio foi concluído em 1752 e abriga azulejaria, vitrais, janelas, lustres, esculturas e luminárias da época. A historiadora revelou que a Companhia tinha uma extensa quantidade de terras em São Cristóvão.

– Neste local havia uma construção anterior que pertenceu aos jesuítas no século XVIII. Há, inclusive, um marco datado de 1752. Era uma quinta de repouso e descanso dos jesuítas. Em cima dessa construção, já no século XIX para o XX, foi construído o que existe hoje. Quando os jesuítas foram expulsos e a ordem extinta, em 1773, o Conde de Bobadela, então governador do Rio, transformou aquela antiga construção em leprosário, dentro dos moldes do ecletismo.

A azulejaria histórica presente nas paredes do Hospital Frei Antônio datada do século XVIII

A engenheira civil Lucia Regina Coutinho, que estudou sobre a arquitetura jesuítica, se surpreendeu com o Hospital Frei Antônio. Ela contou que não sabia da existência do local e lamentou que a instituição tenha sido desativada. Para Lucia, o tour foi uma oportunidade de se aprofundar no assunto.

– Há dois anos, fiz um curso de turismo e vi um Rio de Janeiro que não conhecia. Quando surgiu o passeio, realmente me impressionou. A gente vê que não conhece nada. Eu, quando fiz o curso de turismo, fiquei impressionada com o barroco e achei muito pesado. Hoje, a professora mostrou um barroco de movimentos, de expressões, de volumetria, algo bem diferente do que eu já tinha visto.

Mais Recentes
Beleza a favor do ecossistema
Mercado de cosméticos veganos conquista consumidores que lutam contra a exploração animal
A voz que não pode ser calada
A liberdade de imprensa é considerada um direito social conquistado pelos profissionais da comunicação
Diplomacia na escola
Alunos da PUC participam da sexta edição MICC