Anchieta, missionário também com a pena
10/06/2014 16:44
Padre Jesús Hortal | Ex-reitor da PUC-Rio

Aspectos que encontramos na vida de Anchieta é comparado às múltiplas faces de um diamante


A multiplicidade de aspectos que encontramos na vida de Anchieta somente é comparável às múltiplas faces de um diamante: reflete a luz recebida e no-la devolve com toda a gama colorida do arco íris. A sua origem familiar une os dois extremos da Espanha: o país basco, extremo Norte da Península Ibérica – terra do seu pai – e as Ilhas Canárias, de fronte às costas africanas, lar de sua mãe, a qual, por certo, para acrescentar mais um traço diferente, era descendente de judeus conversos, ou cristãos novos, como se dizia naquela época.

Uma segunda fonte de variedade está na sua formação. Até os catorze anos, na Ilha de Tenerife, consegue um domínio do latim que nos causa admiração. Depois, em Coimbra, não chega a completar o curso universitário. Enviado para o Brasil, será o mais extraordinário autodidata. Numa terra onde não existia uma única escola de Teologia, Anchieta consegue ser um notável teólogo, ao mesmo tempo que um agudo observador da natureza e das populações da Terra de Santa Cruz.

Depois, será o maior catequista que já tivemos, mas também um excelente administrador, não só no Colégio de São Paulo de Piratininga, mas também como Superior Provincial de todos os jesuítas de nosso país. Igualmente, por força das circunstâncias, acabou sendo um grande professor, um fundador de confrarias e um magnífico enfermeiro.

Finalmente, ele foi um escritor poliglota e fecundo. Dominava quatro línguas e nas quatro nos deixou a sua variada produção literária. Em espanhol conservamos uma boa parte das cartas, com a primeira história natural do Brasil. Dominava tão bem o latim que o provincial que o precedeu encarregou-o de redigir naquela língua os longos relatórios que devia enviar a Roma, pois não havia um outro jesuítas tão capaz quanto ele. E, em latim, escreveu sobre as areias de Ubatuba, enquanto era refém dos Tamóios, o Poema a Nossa Senhora, modelo de verso na língua do Lácio, assim como a obra um tanto aduladora De Gestis Mendi de Sá (As Façanhas de Mem de Sá). Com o seu raciocínio límpido, elaborou a primeira gramática da língua tupi (“a mais falada nas costas do Brasil”), contribuindo para o surgimento da “língua geral”, veículo de comunicação não só entre as diversas tribos indígenas, mas também entre índios e portugueses.

Mas Anchieta, mesmo literato, não esqueceu nunca que ele era, sobretudo, um missionário. As suas obras teatrais, que continuaram a ser representadas repetidamente mesmo após a sua morte, nos mostram essa ânsia de espalhar a boa nova. Nesses autos sacramentais se entrelaçam o espanhol, o português e o tupi e constituem uma espécie de catequese popular, facilmente compreensível para os mais simples.Talvez o melhor seja o Auto de São Maurício. Mas o Auto de Santa Isabel, escrito nos momentos em que que já vislumbrava a morte, nos mostra essa ânsia missionária, incontida do Apóstolo do Brasil.

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