“Brasil e Noruega são muito diferentes, mas compartilhamos da preocupação ambiental”
23/09/2016 18:57
Camila Gouvea e Carolina Ernst / Foto: Gabriel Molon

Países reforçam uma parceria de intercâmbio na área de educação e pesquisa


 

Especialistas noruegueses e brasileiros se reuniram no seminário Sustainable future (futuro sustentável) com o propósito de intensificar a inovação e a pesquisa junto às comunidades de educação superior e ampliar o intercâmbio de estudantes de ambos os países. Com a presença do ministro da Educação e Pesquisa da Noruega, Torbjørn Røe Isaksen, cerca de 100 pessoas, entre representantes de instituições e centros de pesquisa noruegueses, especialistas brasileiros participaram de um plenário sobre desenvolvimento sustentável, organizado por uma parceria entre a Coordenação Central de Cooperação Internacional (CCCI) da PUC-Rio e o Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro.

 

No encontro, realizado quarta-feira, 22, no Salão da Pastoral da PUC-Rio, o ministro declarou que a Noruega está disposta a dar oportunidades para estudantes, de forma sustentável, e ressaltou as afinidades com o Brasil:

 

Apesar de Noruega e Brasil serem diferentes, temos muitas semelhanças, como a produção de petróleo e as pesquisas. Um tópico que poderia ser explorado é a produção do petróleo da forma mais sustentável possível.

 

O diretor geral do Centro de Cooperação Internacional em Educação da Noruega, Harald E. Nybølet, que conversou com o Jornal da PUC Online após o encontro (leia a entrevista completa abaixo), reforçou o interesse de seu país na parceria com o Brasil:

 

– Estamos vivendo em um mundo globalizado, então, para a Noruega, um país pequeno, para manter-se competitivo é importante ter relações pelo globo. Temos que saber lidar com o resto do mundo.

 

No último painel, que teve a vice-reitora de Educação da Oslop and Akershus University College of Applied Sciences, Nina Waaler, como moderadora, acadêmicos de instituições cariocas e norueguesas também expressaram suas expectativas quanto à parceria entre os dois países.

 

O reitor da Universitetet I Bergen, Dag Rune Olsen, expressou anseio por colaboração mais intensa entre os dois países, principalmente nos âmbitos da pesquisa científica e da educação. Citou como exemplo a parceria entre a PUC-Rio e a Universitetet I Bergen dentro do programa Ciências Sem Fronteiras. Além disso, parabenizou a iniciativa do Brasil para tratar das mudanças climáticas.

 

– Estou feliz com as perspectivas e o sucesso é garantido se continuarmos deste jeito.

 

A partir de sua pesquisa sobre o futuro da filosofia e da ciência, o professor de Filosofia Danilo Marcondes, coordenador de Internacionalização da PUC-Rio, defendeu o papel da educação como vetor de mudança:

 

– Temos que pensar no planejamento em longo prazo; nossa responsabilidade vai muito além do momento em que vivemos. Os brasileiros, por exemplo, tendem a ter uma mentalidade voltada ao curto prazo. Com a educação adequada, podemos mudar essa mentalidade. Acadêmicos são os responsáveis por uma nova geração.

 

O reitor da Universidade de Oslo, Ole Petter Ottersen, exaltou o pensamento do professor Danilo quanto à importância do processo de conscientização sobre a importância da educação e acrescentou que, para a concretização de políticas de desenvolvimento sustentável, a Noruega pode ser de grande ajuda para o Brasil:

 

– Com ações concretas entre os dois países e o grande interesse brasileiro, nós devemos ser otimistas. Não existe sociedade sustentável sem a visão do mundo inteiro sobre o assunto; a América Latina, a Ásia e a África não podem ser deixadas de lado.

 

Ele defendeu a flexibilização das políticas de intercâmbio entre as duas nações para que essas trocas sejam intensificadas, o que seria “benéfico para as duas pátrias”.

 

A diretora de Cooperação Internacional da Uerj, professora Cristina Russi Guimarães Furtado, ofereceu o campus da universidade para projetos comuns: “Temos infraestrutura e acordos internacionais que propiciam pesquisas, por exemplo, na área ambiental”.

 

A reitora Nina Waaler realçou:

– A aliança entre instituições, pesquisas e alunos ainda é modesta, mas esse potencial tem que ser aumentado. Barreiras devem ser derrubadas e devemos trabalhar também, no futuro, em outros campos interessantes como saúde, bem-estar, políticas sociais e educação. É o nosso dever, como acadêmicos, facilitar essa colaboração.

 

Após o encontro, Harald E. Nybølet, diretor geral do Centro de Cooperação Internacional em Educação da Noruega (SIU), agência do setor público que promove a cooperação internacional em todos os níveis de educação, conversou com o Jornal da PUC Online.

 

Jornal da PUC Online: Que aspectos da educação norueguesa o Brasil poderia importar para melhorar nesse aspecto?

Harald E. Nybølet: Do ponto de vista norueguês, o que é importante para nós é que temos um sistema de educação pública para todos. Isso significa que a educação na Noruega é muito acessível, desde o jardim de infância até as universidades. Toda a ideia da Noruega ser um país igualitário, não ter muitas diferenças entre ricos e pobres, deve-se à educação de alta qualidade para todos. Outro ponto importante é que a grande maioria das escolas é de responsabilidade do governo. Temos algumas instituições privadas que são boas, mas não necessariamente melhores que as públicas. Isso faz com que, como disse, a igualdade no país seja maior e as pessoas se sintam mais incluídas.

 

Em quais aspectos os jovens noruegueses podem se beneficiar vindo estudar no Brasil?

Diversos. Estamos vivendo em um mundo globalizado, então, para um país pequeno como a Noruega se manter competitivo, é importante ter relações pelo globo. Temos que saber lidar com o resto do mundo. Acreditamos que, ao mandar estudantes noruegueses para o Brasil ou outro país, eles podem voltar com impulsos, novas ideias, aprender sobre diferentes culturas e línguas, abrir suas mentes, crescer em um novo ambiente e ver seu país de fora. Com o incentivo que os jovens trazem ao voltar, podem ajudar muito a qualidade do ensino na Noruega. Acho que temos muito o que aprender uns com o outros.

 

Além da educação, como ocorrerá a colaboração entre os países para o desenvolvimento sustentável?

Acho que o que estamos discutindo aqui hoje é, da minha perspectiva de lidar com educação internacional, é que precisamos ver mais colaboração entre universidades, instituições de pesquisa, pois às vezes educação e pesquisa estão em um mundo à parte. Com o desemprego e essas coisas, é importante que nossos estudantes tenham uma educação que seja relevante para o mundo do trabalho e para a indústria. Então, a conexão do mundo do trabalho com a educação é importante. A sustentabilidade é um tópico muito importante no Brasil, com a floresta tropical, a produção de petróleo, e essas preocupações são as mesmas que temos na Noruega. Em termos de sustentabilidade, temos muito o que aprender e trocar ideias entre nós.

 

A Noruega tem alguma cooperação do mesmo tipo com outros países?

Sim, cooperamos com diversos países ao redor do mundo. Ano passado, o governo da Noruega apresentou uma estratégia específica de cooperação no ensino superior e pesquisa com os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o Japão. Desta forma, a Noruega tem prioridade com esses países, que são muito importantes, muito maiores que a Noruega – por exemplo o Brasil, que é composto por mais de 200 milhões de habitantes, enquanto o nosso país tem apenas 5 milhões. Então acho que o Brasil é uma das prioridades do governo por causa de sua importância na economia, na produção e no comércio. Reforçando mais uma vez, temos muito o que aprender uns com os outros, e qualquer relação de troca é enriquecedora.

 

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