Depois de 50 anos, lembranças voltam à mente
30/04/2014 17:46
Davi Barros

Professores e ex-alunos relatam fatos da ditadura e contam as experiência vividas na época

Comemoração às avessas, descomemoração e relembrança. No encontro realizado pelo Departamento de História, intitulado 50 anos depois do Golpe, essas denominações foram sugeridas. Os debates sobre a ditadura militar ocorreram do dia 1º ao dia 3 de abril.

No primeiro dia foram discutidas atividades das Comissões da Verdade. Quatro professores da Universidade participaram do debate. A professora emérita do Departamento de História Margarida de Souza Neves, que estudava na Universidade na época do golpe, contou que veio à PUC em 1º de abril de 1964, cheia de coragem para enfrentar as forças defensoras do golpe. Ainda hoje, recorda-se da presença do estudante da PUC morto pela ditadura, Raul Amaro Ferreira. Margarida comentou o orgulho que tem de ser Coordenadora Acadêmica do Núcleo de Memória da Universidade.

– Tive a intuição de que vale a pena fazer o trabalho no Núcleo de Memória depois de ver as pessoas reproduzirem os cartazes da década de 60 – disse.

O diretor do Departamento de História e integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Marcelo Jasmin, falou da pesquisa que fez na CNV, na qual descobriu o que já se suspeitava: as torturas não começaram depois do AI-5, mas sim logo no primeiro dia do golpe.

– O que as comissões têm feito é levantar documentos que ponham em cheque as “versões oficiais”. As hipóteses de ditadura benevolente no início são infundáveis. A violência da ditadura não começou depois, a ditadura é a violência.

Também participaram do encontro o professor da pós-graduação do Departamento de Direito e professor do Instituto de Relações Internacionais, José María Gómez, e o professor da pós-graduação do Departamento de Direito e membro da Comissão Estadual da Verdade, João Ricardo Dornelles.

O segundo dia foi marcado pela exibição do filme Os Advogados contra a ditadura, por uma questão de Justiça, dirigido pelo cineasta Sílvio Tendler, professor do Departamento de Comunicação Social. Após a apresentação do longa-metragem, houve um debate com a participação de Tendler, do professor Fernando Sá, do Departamento de Comunicação Social e autor do livro Advogados e a Ditadura de 1964 – A defesa dos perseguidos políticos no Brasil, que inspirou o filme, e do professor Adriano Pilatti, do Departamento de Direito.

– O cinema brasileiro hoje só quer fazer filme que venda, não se importando com a crítica. Eu acho que filme é feito para ser visto, não para dar lucro. Eu não me importo, por exemplo, se eu tenho um filme muito pirateado, mas muito visto – afirmou Tendler.
Fernando afirmou que não compreende por que os advogados não são muito citados, apesar de eles terem sofrido perseguição política, justamente por defender os acusados pelo regime.

– O objetivo maior foi recuperar a história e a participação deles. Porque atualmente fala-se muito dos militares e dos resistentes, mas pouco dos advogados, que também arriscaram suas vidas, seus escritórios, suas reputações. Eles foram presos e tiveram escritórios invadidos – disse.

O terceiro dia contou com a presença de pessoas que foram estudantes da Universidade na época do regime e que voltaram à PUC como professores. A ex-aluna e ex-professora do Departamento de Física Maria Augusta Davidovich, o ex-aluno de física e professor do Departamento de Engenharia de Materiais Raul Nunes e o ex-aluno do Departamento de História e ex-professor do Instituto de Relações Internacionais Pedro Cunca contaram as experiências vividas na época.

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