Orgulho das raízes africanas
21/05/2014 17:51
Ana Costa e Gabriel Pinheiro / Infográfico: Diogo Maduell

Mapeamento de terreiros fluminenses levanta questão da intolerância


A intolerância religiosa presente no dia a dia dos que professam a fé nas religiões de matrizes africanas foi um dos principais temas abordados na cerimônia Mapeamento de Terreiros do Rio de Janeiro – conclusões de uma pesquisa, ocorrida no dia 6 de maio. O marco do encontro foi o lançamento do livro Presença do Axé – mapeando terreiros no Rio de Janeiro. Macumbeiro, filho do demônio e negro sujo. Estas são algumas palavras frequentemente usadas, no sentido pejorativo, para definir o Povo do Axé.

A professora Sônia Maria Giacomini, do Departamento de Ciências Sociais, que produziu a obra e o encontro em parceria com a professora do Departamento de Serviço Social Denise Pini Rosalem da Fonseca, explica que o estudo revela a postura da PUC à frente do diálogo interreligioso. Durante a cerimônia, Mãe Beata de Iemanjá, seguidora do candomblé, confirmou o posicionamento da Universidade.

– Na PUC não entrava negro, nem pobre. Muito menos seguidores das religiões afro, que são o meu sangue e meu coração que pulsam com todo amor e toda fé. E hoje eu estou aqui com meus irmãos. Aqui não existe ninguém branco ou negro, só pessoas de fé.

O umbandista Pai Pedro acredita que dentro do princípio da religião vive-se sob a influência espiritual, e a visão que é constituída é de fraternidade. Uma família que deve caminhar lado a lado, sem qualquer forma de distinção.

O projeto do mapeamento nasceu do interesse de um grupo de líderes religiosos do Rio que queria saber quantos são e onde estão localizados os terreiros do estado. Além disso, eles queriam proteger os fiéis, vítimas de violências praticadas contra o grupo e garantir o direito à liberdade religiosa.

 Dos 847 terreiros visitados, 430 declararam sofrer atos de discriminação. Sônia afirma que este dado foi um dos motivadores para a realização do mapeamento.

– A intolerância foi o ponto que mobilizou esses religiosos a nos solicitarem o mapeamento. Porque eles estão invisíveis e, por isso, não podem ser agentes de políticas públicas – explica Sônia.

Um assunto que ainda requer estudo, mas que chama a atenção, é a distribuição destas casas religiosas pelo território fluminense. O mapeamento mostra que na Zona Sul existem apenas quatro terreiros. De acordo com os critérios de indicação da pesquisa, nas favelas do estado nenhum foi identificado.

Segundo Denise, este é um dado que ainda precisa ser estudado. Uma das hipóteses da professora é de que há uma associação funcional nas favelas entre os grupos armados – que buscam o domínio territorial – e a intolerância de grupos denominados neopentecostais – que, de acordo com os estudos, são apontados como a maioria dos que discriminam o Povo do Axé.

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