Anchieta, o filme
10/06/2014 17:29
Clóvis Gorgônio/ Núcleo de Memória da PUC-Rio

Crônicas de Memória | Para Não Esquecer


Em 22 de junho de 1980, Anchieta foi beatificado, uma das etapas do processo de canonização. A PUC- -Rio comemorou o fato a partir de 9 de junho de 1980, Dia Nacional de Anchieta, instituído em 1965 pelo Presidente Castelo Branco. Houve eventos artísticos e acadêmicos, entre eles, a exibição do filme de Paulo César Saraceni, Anchieta, José do Brasil.

Saraceni foi um dos proponentes do Cinema Novo. Após o Golpe de 1964, e especialmente após o AI-5, o cinema sofreu com a Censura. Filmes foram impedidos de serem exibidos ou mutilados.

Em 1969, foi criada a Embrafilme, que financiava a produção nacional e tentava enquadrá- la às diretrizes do Governo Federal. Neste contexto, o filme- símbolo é “Independência ou Morte”, que reforçava a figura de Dom Pedro I como herói nacional, sempre em trajes militares. O filme foi sucesso de público e elogiado pelo Presidente Médici.

A Embrafilme criou uma verba específica para filmes históricos, cujos roteiros teriam que ser aprovados pelo MEC. A produção de “Anchieta”, iniciada em 1975, recebeu recursos superiores à média. A vida do “Apóstolo do Brasil”, visto como construtor da nacionalidade e da integração harmônica entre brancos, negros e índios, era valorizada pelo regime.

Saraceni disse ter se inspirado em Dom Pedro Casaldáliga, ligado à Teologia da Libertação. Para o papel-título, escolheu Ney Latorraca, sucesso nas novelas da TV. Queria atrair o grande público, embora não fizesse concessões na linguagem cinematográfica: o filme tem 140 minutos, com longas cenas contemplativas, alegóricas e montagem não linear, características do Cinema Novo.

O filme não obteve o impacto esperado, nem apoio para sua divulgação: não era a “história como se queria”, era um Anchieta “catequizado pelos índios”, a inversão do papel do colonizador frente ao colonizado. Nas universidades, o filme foi discutido enquanto se iniciava o processo de redemocratização, com a Anistia e a reestruturação do sistema partidário.

Uma releitura do filme hoje permite identificar o que permanece e o que muda nas relações entre arte, Estado, história e construção de identidades, e entender o que significava a produção de um filme histórico naquele momento vivido pelo Brasil.

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