A principal reivindicação era contra o aumento das tarifas de transportes. Depois da ação violenta da Polícia Militar para conter manifestantes, os protestos, em São Paulo por exemplo, tomaram proporções enormes. A revolta se estendeu por outros estados brasileiros. No Rio de Janeiro, 100 mil manifestantes ocuparam as ruas do Centro pela redução de R$ 0,20 no preço das passagens e por melhores condições de transporte, saúde e educação.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, Ricardo Ismael analisa a gota d’água para os movimentos que tomaram as ruas do Brasil. Para ele, a repercussão ultrapassou a iniciativa dos estudantes e ecoou na sociedade como um todo.
– Então, quando a polícia veio para reprimir o movimento, os estudantes compraram ainda mais aquele movimento. Agora era pelo direito de protestar também, além da questão de tentar derrubar o aumento das passagens.
O Levante Democrático das Ruas do Brasil, como chamou o professor Marcelo Burgos, surgiu sem líderes partidários. Para ele, essa particularidade do movimento não é por acaso.
– Os jovens perceberam que se tiverem uma interlocução clara, serão chamados por programas de televisão, por autoridades para representar uma coletividade que não representamos. Então, é também um truque não ter uma liderança que sirva de interlocutor para uma resposta pronta e imediata.
Diariamente, 4.480 pessoas usam transportes públicos no Rio de Janeiro e gastam, em média, R$ 5.
– A gente deveria estar investindo em trem, ônibus, metrô. Cidades muito populosas precisam de transporte de massa para dar agilidade – observa Ricardo Ismael.
A agência de transportes, na opinião de Marcelo Burgos, tem sido omissa com os direitos da população.
– É uma situação que acaba ganhando a cena pública e um protagonismo político – reflete o professor Marcelo Burgos.
O grito da população inicialmente por transporte é contra todo vandalismo sofrido diariamente por todo povo.
– Mobilidade é como sangue. Se os cidadãos não circulam, eles perdem muito dos seus direitos. Do direito à cidade – diz Burgos.
Edição 272