Retomada discussão do atentado à OAB
06/09/2013 11:02
Diego Roman e Ericka Kellner/Foto: Flavia Espíndola

Filho de Lyda Monteiro, morta há 33 anos, continua lutando por justiça

Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Eduardo Seabra Fagundes participa do encontro

O atentado à OAB foi relembrado no dia 27 de agosto, na PUC-Rio. O Núcleo de Direitos Humanos e a Comissão Nacional da Verdade organizaram na Universidade o encontro Testemunho da Verdade sobre o Caso Atentado da OAB: 33 anos da Carta-Bomba. A palestra recordou o episódio na sede da OAB do Rio de Janeiro, responsável por provocar a morte da funcionária Lyda Monteiro. Foram exibidas reportagens sobre o fato, testemunhas deram depoimentos e integrantes da Comissão Nacional da Verdade debateram o caso com outros convidados.

No dia 27 de agosto de 1980, a secretária Lyda Monteiro da Silva morreu depois de abrir uma carta-bomba endereçada ao até então presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes. No mesmo dia, mais duas cartas-bombas foram entregues no Rio de Janeiro: uma no gabinete do vereador Antonio Carlos de Carvalho (PMDB), na Câmara Municipal (ferindo gravemente José Ribamar de Freitas, funcionário do vereador) e outra na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Na ocasião, os inquéritos foram abertos e nada foi apurado.

O fato marcou a história da OAB e refletiu um dos períodos mais conturbados da política brasileira. Para Seabra, o caso foi uma espécie de ponto de inflexão do regime militar:

– A partir daí, os próprios adeptos dessa ordem sentiram certo acanhamento. Eles se sentiram desconfortados com a morte de uma pessoa que não tinha relação com ideais políticos. Isso colaborou para a decadência do regime – afirmou.

A Instituição recebia inúmeros pedidos diariamente para investigar desaparecimentos, e era uma das organizações que mais se destacavam no combate à ditadura. A Coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, acredita que a subversão da OAB pode ter sido um dos fatores que motivaram o atentado.

– As forças ligadas ao sistema de segurança do Estado Ditatorial queriam criar situações de instabilidade social para se tornarem outra vez necessárias. Elas queriam mostrar que aquele não era o momento da abertura, e que esta era precoce, indevida e desnecessária – disse.

Ela ainda creditou a falta de êxito na apuração do caso ao corporativismo das Forças Armadas.

O filho de Lyda, Luiz Fellipe Monteiro, que na época fazia mestrado na PUC-Rio, contou que houve uma manifestação sobre o atentado na Universidade. Para ele, o foco da Comissão da Verdade em solucionar o caso da morte de sua mãe é "um reconforto", e acredita que os culpados serão encontrados. O advogado disse que conseguiu superar a vontade de se vingar.

– Pensei em jogar bombas, pensei em matar quem matou a minha mãe, mas eu não queria ser igual a eles – contou.

Na opinião do presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, o evento simbolizou que a democracia brasileira ainda precisa se consolidar. No entanto, ele considera que o ocorrido fortaleceu a relação dos brasileiros com a classe dos advogados.

– O atentado foi o momento mais glorioso da história da OAB, pois foi quando o povo brasileiro soube que podia contar com os advogados.

Ele também afirmou que o inquérito foi uma farsa e ainda responsabilizou agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) pelo atentado. Na época, a investigação apontou como culpado o americano Ronald Waters, que foi inocentado logo em seguida por falta de provas. A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro vai tentar a reabertura do caso e garantiu que a entidade vai encontrar os responsáveis pelo atentado.

Edição 273

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