As dúvidas sobre os protestos do povo
04/10/2013 11:19
Davi Barros, Gabriela Mattos e Letícia Gasparini/Foto: Flavia Espíndola

Violência assustou os brasileiros que foram às ruas no país

Curador do Museu de Arte Moderna (MAM), o professor Luis Camilo Osório, participou de uma das mesas


Desde junho, protestos populares têm chamado atenção no país – o maior levou mais de 100 mil pessoas às ruas do Rio de Janeiro. Entre as reinvindicações, os manifestantes pedem a reforma política brasileira. No entanto, a ausência de um líder e as frequentes cenas de violência entre os policiais e os participantes dos movimentos causam dúvidas em torno do assunto. Com base nessas questões, o Departamento de Filosofia e o Centro Acadêmico de Filosofia (Cafil) organizaram o ciclo de palestras Outras Palavras: a Revolta do Vinagre e a Filosofia, no dia 9 de setembro.

Os manifestantes pedem mudanças, como, por exemplo, no processo e na estrutura política do país. Segundo o participante do Movimento de Resistência Popular (MRP) Kennedy Donato, a principal reinvindicação é por um governo em que haja mais participação do povo.

– Queremos chegar a um novo paradigma político em que o Poder Público prevaleça. Isso não é utópico. Precisamos prosseguir com essa luta. Não podemos continuar com a estrutura que destrói em nome do lucro e do capital. Os interesses privados não podem estar acima da vida – explicou Donato, que esteve presente na mesa de debates O que significa vencer.

Os protestos são marcados pela ausência de um líder e pelas diversas reinvindicações, o que gera opiniões divergentes sobre o assunto. Há pessoas que são contra, pois acreditam que isso tira a credibilidade das manifestações, mas há aquelas que acham democrático. Para o curador do Museu de Arte Moderna (MAM) e professor do Departamento de Filosofia, Luis Camilo Osório, esse tipo de formação condiz com a luta do movimento, que é a descentralização política.

– Essa formação é exemplar. Recentemente, em um programa de televisão, vi uma menina que disse que não era ninguém. E eu a entendi. Ao mesmo tempo, ela também era tudo – comentou o professor, que participou da mesa Problemas sobre os limites da liberdade de expressão.

Além disso, os protestos foram marcados por cenas de violência entre os manifestantes e os policiais. Durante as passeatas, lojas foram saqueadas e houve o uso de spray de pimenta. O fotógrafo Pedro Curi, que tirou fotos dos movimentos nos dias 17 e 20 de junho, afirmou que esse comportamento violento prejudica e tira a legitimidade das manifestações.

– É perceptível a diminuição absurda do número de pessoas. Antes eram milhões que iam às ruas, inflamadas. Os pais de família, médicos, advogados, balconistas, que não são de partidos políticos, só exigiam os direitos básicos – completou.

Segundo o professor Edgar Lyra, do Departamento de Filosofia, é preciso que se analise a complexidade desses protestos. O professor afirmou, também, que as universidades e os intelectuais são importantes nas discussões sobre o tema.

– Uma das apostas, por exemplo, é nesse fórum que promovemos. Tem que haver muita conversa e paciência. O assunto é complexo. Temos que evitar que esses movimentos se esvaziem, que deem lugar a uma negociata política. Acho que você tem a ação, mas ação sem discurso é cega – pensa.

Edição 274

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