A tragédia dos armênios no Império Otomano
30/05/2014 17:29
Norman Prange / Ilustração: Diogo Maduell

O premiê da Turquia, Erdoğan, abordou, pela primeira vez, em 2014, o assunto polêmico em comunicado oficial


As palavras do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, na ocasião dos 99 anos do Genocídio Armênio, em 24 de abril de 2014, parecem de conciliação. Em comunicado oficial, o premiê exprimiu as condolências aos netos dos armênios mortos e desejou paz para aqueles que perderam a vida na época. Erdoğan se referiu, sem usar o termo genocídio, ao massacre que ocorreu entre 1915 e 1917 no Império Otomano.

Estima-se que até 1,5 milhão de armênios foram mortos. Pela primeira vez, desde sua fundação, em 1923, a Turquia fez declarações positivas sobre o assunto, mas, mesmo assim, nunca assumiu a culpa no episódio e rejeita o termo genocídio.

No século XX, quatro principais assassinatos em massa ocorreram em diferentes partes do mundo: na Segunda Guerra Mundial com o holocausto, no Camboja, entre 1975 e 1979, na Ruanda, em 1994, e o primeiro dos quatro, conhecido como Genocídio Armênio, até hoje gera desarmonias entre a Turquia e a Armênia.

Em 24 de abril de 1915, o governo otomano prendeu e massacrou centenas de líderes armênios em Istambul, segundo o BBC Brasil. Depois ocorreram deportações, execuções e marchas de morte, com o objetivo de exterminar a presença cultural e econômica armênia no Império Otomano, que mais tarde seria a Turquia.

O historiador Thiago de Lemos, da Universidade de Brasília (UnB), explica que diversas etnias no Império Turco reivindicavam autonomia antes da Primeira Guerra. Entre os grupos estavam os gregos, eslavos, árabes e os armênios. Embora alguns conseguissem liberdade, os armênios permaneceram sob o domínio otomano. A maioria dos armênios era cristã, enquanto o Império Otomano era majoritariamente muçulmano, o que aumentou a discriminação contra eles.

Após o estouro da Primeira Guerra, os armênios no lado russo reivindicaram autonomia do governo turco. De acordo com Lemos, a rivalidade histórica entre a Rússia e o Império Otomano, provocada por diversos conflitos entre ambos, foi a razão pela qual a troca de lado dos armênios era considerada uma traição. A perseguição resultou na matança dos armênios.

– A repressão ao movimento nacionalista armênio terminou em genocídio, ocasionado por deportações, utilização de armas químicas e marchas da morte – observa o professor de história.

Atualmente, 21 países reconhecem o Genocídio na Primeira Guerra. Alemanha, França, Rússia, Canadá, Argentina, Chile e Venezuela fazem parte desse grupo de nações. Por outro lado, o Brasil e os Estados Unidos nunca reconheceram oficialmente o fato, embora São Paulo, Paraná e Ceará, além de 43 estados americanos, reconheçam.

Para a Turquia, que sucedeu o Império Otomano em 1923, é difícil aceitar o genocídio, segundo Lemos, porque significaria resignar-se ao cometimento de um crime contra todo um povo e, consequentemente, contra a humanidade. Além disso, o historiador relembra que nações podem ter interesses próprios em reconhecer crimes por causa do passado.

– Não é possível esquecer que muitos países que defendem o reconhecimento do Genocídio Armênio, cometido pelos turcos, não o fazem abertamente quando se trata dos genocídios por eles cometidos, como é o caso da França na Guerra de Independência da Argélia – aponta.

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