O conflito que não terminou
30/05/2014 17:34
Arthur Macedo / Ilustração: Diogo Maduell

A Primeira Guerra Mundial provocou consequências que mudaram o curso da história da humanidade


Desaparecimento e partilha de impérios, novo desenho de um continente inteiro, queda de dinastias, fortalecimento do nacionalismo alemão, tratados de paz e ascensão dos Estados Unidos. Não foram poucas as consequências deixadas pela Primeira Guerra Mundial. E, até hoje, os impactos causados pelas decorrências do conflito ressoam pelo mundo.

A Grande Guerra foi o confronto que mais mudou o mapa da Europa. Devido a tratados de paz impostos às nações derrotadas, grande parte dos territórios desses países foi perdida e culminou com o fim dos impérios Alemão, Otomano e Austro-Húngaro. Surgiram novas repúblicas, tais como a da Áustria (estabelecida pelo Tratado de Saint-Germain, em 1919) e a da Hungria (Tratado de Trianon, em 1920).

O professor Márcio Scalércio, do Instituto de Relações Internacionais da PUC, afirma que as alterações no mapa europeu criaram zonas de instabilidade na região.

– A Liga das Nações consagrou os 14 Pontos de Wilson. Um desses pontos era o direito de autodeterminação de povos. Só que muitos desses povos da Europa viviam fora de seus estados. Por exemplo, muitos húngaros viviam na Romênia. Isso produz uma série de brigas étnicas nesses territórios onde minorias importantes acham que estão sendo discriminadas pelos governos que passaram a administrá-los. Com os impérios, esse problema era diluído – conta.

Outro império que desapareceu foi o Russo. As derrotas sofridas pelos russos e a crise econômica que assolava o país acirraram as tensões sociais e provocaram a Revolução Russa, em 1917. A autocracia russa foi derrubada e o Partido Bolchevique, de Lenin, chegou ao poder.

Com relação à economia, as dívidas de guerra entre os Aliados eram grandes. Os Estados Unidos apareceram como credores e países como França e Inglaterra passaram a dever aos americanos. Professor de Economia da PUC, Marcelo Abreu observa que outros países também sofreram.

– Houve uma superoferta de commodities, porque a Guerra afetou regiões produtoras tradicionais. Talvez o açúcar seja o melhor caso. A Guerra afetou tanto as regiões produtoras de açúcar, como o antigo Império Russo, a França e Bélgica. Depois, quando houve a paz, ocorreu uma superoferta do produto – diz.

Outro efeito causado pelas batalhas foi a ascensão dos Estados Unidos. O país, antes da Guerra, já era uma potência econômica e se tornou ainda mais forte com o conflito. As potências europeias envolvidas empenharam praticamente toda economia para se abastecer com os americanos. O professor de História da Universidade de Brasília (UnB) Thiago de Lemos ressalta o que fortaleceu os EUA.

– Os Estados Unidos conquistaram um espaço maior nos assuntos diplomáticos. O país teve um papel decisório na reorganização das forças políticas na Europa. Não por acaso, o presidente Woodrow Wilson teve destaque na Conferência de Paz de Paris e na concepção da Liga das Nações – explica.

As penalidades impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes e a crise econômica devastadora pela qual o país passava, na década de 1920, abriu espaço para posições políticas mais radicais ganharem forças. Lemos afirma que essas posturas políticos se apresentavam como uma salvação do país.

– Essas posições se apresentavam como solução para os problemas econômicos e políticos e que pudessem recuperar o orgulho germânico. Assim, o partido nazista aumentou sensivelmente a sua popularidade até chegar ao poder, em 1933 – relata.

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