O pai da literatura brasileira
10/06/2014 16:58
Arthur Macedo / Foto: Gabriela Doria

Por todo o conjunto da obra, a produção literária de Anchieta foi fundamental para abrir caminhos


Poema da Virgem, composto por José de Anchieta quando refém dos Tamoios, em Iperoig, atual Ubatuba, é considerado, pelo acadêmico e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Eduardo Portella, um poema de fundo místico, com uma abertura afetiva ampla. A obra, uma das referências fundamentais da literatura brasileira, foi escrita nas areias da praia em que Anchieta estava. O padre a memorizou e a escreveu posteriormente em papel, quando libertado. O professor afirma que a elevação espiritual é a principal característica do poema.

Não apenas por essa produção, mas por todo o conjunto da obra, Anchieta é, para Portella, o pai da literatura brasileira e um abridor de caminhos. O imortal, explica por que o considera o primeiro poeta social do país.

– Ele se identificou de tal maneira com o Brasil que passou a fazer uma poesia interessada, também, para a justiça social. Ele se misturou muito com os índios, e isso é algo louvável. Por ele ter uma origem mestiça, acabou por ter uma produção intelectual mestiça. Anchieta escreveu uma gramática mestiça. A gramática se caracteriza pelo purismo, e ele fez uma diferente. Ele assimilou elementos do vocábulo indígena para fazer isso – afirma.

A produção literária de Anchieta é caracterizada por ter uma base clássica, na linha do Renascimento. Portella assinala que os textos do padre têm miscigenação devido à influência do vocabulário local, de comunidades indígenas.

– É um poeta com essa peculiaridade e diversidade. A cultura nacional se caracteriza por ser diversificada, formada por diferenças. Nossa identidade é uma identidade constituída por diferenças. A origem desta pluralidade, de certa forma, está em Anchieta e em sua obra – explica Portella.

O lado educador de Anchieta também foi analisado pelo acadêmico. Segundo Portella, ele inaugurou um tipo de educação participativa.

– Educação era o forte dele. Não era aquele pedagogo na primeira pessoa, que se acha o proprietário da verdade, que não ouve e só quer ser escutado. Anchieta era um educador que participava junto – conta.

Mais Recentes
A missão de ouvir diferentes vozes
Série Especial: Entrevista com os Vice-Reitores
As difíceis decisões de um Vice-Reitor
Série Especial: Entrevista com os Vice-Reitores
Desafios de uma Universidade de excelência
Série Especial: Entrevista com os Vice-Reitores