O teatro brasileiro surgiu com a Companhia de Jesus, em meados do século XVI, e teve como precursor Padre José de Anchieta. Por viver uma transição entre o período Medieval e o Renascimento, o jesuíta utilizou o teatro como instrumento para catequizar e educar os índios. Influenciado pelo dramaturgo Gil Vicente, Anchieta buscou o ideário medieval, com referência na Sagrada Escritura. A obra mais conhecida foi o Auto de São Lourenço, de 1587.
As produções teatrais de Padre Anchieta tiveram predominância no gênero Auto. Esse estilo apresenta, em diálogos, às vezes cantados, ensinamentos morais e personagens que representavam as virtudes e os pecados. Para a professora Miriam Sutter, do Departamento de Letras e Artes Cênicas, os autos de Anchieta apresentam dois aspectos: historicamente, remete ao período medieval, e estilisticamente, a forma como ele apresenta esse teatro.
De acordo com a professora, Anchieta inovou ao trabalhar com a língua e aspectos históricos. Todas as obras dele utilizavam três idiomas: português, tupi-guarani e castelhano. Para Miriam, essa característica literária é interessante, porque ele abandona a escrita em latim, que era a língua cultural durante a Idade Média.
– As peças eram escritas principalmente em tupi, e eram mais voltadas para os indígenas. Há peças em que ele mistura as línguas tupi, português e espanhol. Isso dá a ele um sabor literário, uma preocupação literária com o público.
A professora explica que Anchieta foi o primeiro a tratar desse gênero dramático. Miriam aponta que Anchieta não preservava somente a língua do público alvo, mas utilizava os mitos, as danças e as histórias indígenas.
Segundo a professora, ele proporcionou a criação de novas palavras e um trabalho com o imaginário dos índios.
– A prática de usar as crenças indígenas criou uma síntese de que o ideário não era somente cristão e indígena, mas um ideário de mito, analisa.