Design para pensar soluções criativas e eficientes
07/04/2015 15:47
Alessandra Monnerat e Pedro Malan / Foto: Pedro Myguel Vieira

Projetos desenvolvidos em conjunto por alunos brasileiros e britânicos visam reforçar laço entre os dois países

O embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, conhece os projetos

Enchentes, dificuldade de locomoção de cadeirantes, perigo no deslocamento de ciclistas. Problemas que cariocas enfrentam constantemente, mas que podem ser resolvidos com soluções criativas, eficientes e baratas. Chegar a essas soluções é o objetivo de um grupo de 12 estudantes do Reino Unido e do Brasil que participaram do projeto Creative Campus. Parceria da PUC-Rio com a Middlesex University, de Londres, e a escola Spectaculu, da Gamboa, o workshop reuniu alunos de Design por duas semanas para criar instrumentos inteligentes para a melhoria do Rio.

Os estudantes desenvolveram quatro projetos na Biblioteca Parque Estadual, no Centro. Mas apenas dois foram escolhidos para prototipagem nos laboratórios do Departamento de Design da Universidade: Samba Rampa, uma rampa que também funciona como um filtro para bueiros; e Linhas Cariocas, uma linguagem para facilitar a sinalização de ciclovias. Durante a elaboração, os alunos receberam visitas de designers e de apoiadores como o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis. O diplomata aplaudiu a iniciativa como uma boa mistura de países que, apesar de raramente trabalharem juntos no último século, sempre produziram bons resultados.

- A criatividade entre os dois países é excelente. Pense no Caetano Veloso, que escreveu grandes músicas quando estava em Londres. Pense no carro que Ayrton Senna dirigia, desenhado por um inglês. O grande Gilberto Silva, que era meio de campo no meu time, o Arsenal. Você tem que desrespeitar fronteiras e juntar pessoas. O futuro pertence a quem junta cabeças diferentes, junta mentalidades diferentes. O futuro é do Brasil e do Reino Unido.

As ideias foram desenvolvidas de olho no legado deixado à cidade por eventos de grande porte como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Com foco na solução de problemas, os alunos tiveram como guia um estudo do movimento Rio Como Vamos sobre os desafios da cidade. Entre eles, a drenagem de água e acessibilidade de deficientes físicos, necessidades que o projeto Samba Rampa pretende abarcar. Em formato de concha, a rampa é embutida com um filtro para impedir que folhas, lixo e sujeira entupam os bueiros da cidade.

As estampas que colorem essas estruturas foram pensadas para ter uma alma carioca, a fim de inspirar o cuidado dos cidadãos. O material sugerido é plástico reciclado, barato e muito resistente, características que diminuem a chance de furtos. O designer britânico Huw Owen, co-fundador do Centro de Tecnologia Gordon Murray do Brasil, assessorou a escolha dos materiais. Segundo ele, a produção em massa do projeto demandaria pouco investimento.

- Encorajamos os estudantes a usarem materiais alternativos, como garrafas PET, na produção dos projetos. Nas rampas, podem ser utilizadas fibras sustentáveis, como a de cana-de-açúcar ou de mandioca. Se produzirmos 1.000 Samba Rampas para o Rio, teremos um custo de menos de R$200 por unidade.

De aplicação menos imediata, mas de objetivo igualmente ambicioso, o Linhas Cariocas pretende mapear vias do Rio de Janeiro em uma linguagem que indique a ciclistas quais são os melhores lugares para pedalar. Três cores, combinadas a formatos geométricos e texturas, informam sobre a condição das ruas. O verde, com linhas mais suaves, significa que a pista é boa para percorrer. O amarelo, com traços mais quadrados, avisa que é preciso atenção. E o vermelho, combinado a formas triangulares e pontiagudas, indica perigo.

O projeto também sugere lançar um aplicativo similar ao Waze para mostrar no mapa os melhores trajetos para ciclistas. A comunicação visual continua em roupas e mochilas, cujas cores diferenciam um ciclista iniciante de um experiente.

Para lidar com um grupo de origens tão heterogêneas, os tutores Graeme Brooker e Phil Nutley montaram times móveis para que cada membro trabalhasse com pessoas e projetos diferentes. Um dos idealizadores do Creative Campus, Brooker, que é diretor do Departamento de Moda e Design de Interiores de Middlesex, considera o trabalho em equipe um fator de importância na fermentação de boas soluções.

- Você tem que ser capaz de trabalhar em grupo, senão não irá muito longe na carreira. Ser sociável é tão importante quanto ser um bom designer. Tentamos desenvolver isso aqui. Acostumamos eles a não falarem “eu”, mas sim “nós”. Eles acabam vendo um pouquinho de si mesmos em todos os projetos, o que é muito legal.

O método de trabalho resultou em uma convivência amigável entre britânicos e brasileiros. Para Tori Rodway, estudante de Design da Universidade de Middlesex, a primeira vez no Rio não poderia ter sido melhor.

- Acordávamos sempre às seis da manhã para ir à praia antes dos encontros. Chegávamos às reuniões muito animados, e os brasileiros ainda estavam acordando. Esse contraste do jeito de ser é muito legal, pois enquanto estávamos a mil por hora, os brasileiros estavam relaxados. Foi ótimo trabalhar com gente assim. Espero que o projeto final seja implementado no Rio.

Agora, para ver os projetos do Creative Campus nas ruas cariocas, o próximo passo é consolidar as especificações técnicas para apresentar as propostas ao poder público. Segundo Laudemar Aguiar, coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura, há patrocinadores interessados em levar o trabalho adiante.

- Queremos uma cidade mais cosmopolita, um turismo mais cosmopolita. Teremos mais bicicletas, mais trilhas, mais museus. O turismo cultural está crescendo no Rio de Janeiro. Esses projetos têm tudo a ver com esse momento da cidade e com a participação da população.

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