Para preservar o meio ambiente, mas sem perder a bossa, muitos foliões aderiram ao modo Do It Yourself (Faça Você Mesmo) para desfilar nos blocos de rua neste Carnaval. Como a maioria dos materiais usados nas fantasias são frágeis e acabam sendo descartados, ao produzir os próprios adereços, o folião pode reaproveitar as peças posteriormente.
A estudante Manuella Hellena, de 20 anos, começou a preparar o figurino com um mês e meio de antecedência. Além de economizar, ela aposta na versatilidade para montar looks diferentes e até divide adereços com o namorado.
- Fui até o Centro para ter ideias, ver materiais, procurei inspirações na internet e fui dando o meu toque nas coisas. Fiz arcos com dizeres e formas, comprei o tecido para fazer um short e um top e aproveitei roupas que já tenho.
A ideia da estudante é montar fantasias com peças que podem ser compartilhadas e utilizadas novamente em uma nova composição. Após a folia, as fantasias antigas de Manuella serão repassadas a baixo custo para outras pessoas ou serão customizadas e aproveitadas para o Carnaval no ano que vem.
Pequenas ações como a de Manuella podem ajudar a garantir um meio ambiente melhor. No último fim de semana de fevereiro, durante o pré-carnaval, cerca de cem toneladas de lixo foram retiradas das ruas cariocas pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb).
Diante desse cenário, ações sustentáveis de reutilização e fabricação de produtos de Carnaval ganham espaço. De acordo com o jornalista e gestor ambiental André Trigueiro, professor do Departamento de Comunicação Social, a festividade não pode justificar o descaso com o espaço urbano e o meio ambiente. Para ele, as multas são medidas eficazes para solucionar o impasse, e devem estar atreladas às novas alternativas de fantasias e acessórios sustentáveis.
— É responsabilidade do folião não aumentar a quantidade de lixo nas ruas, não dá para usar o carnaval como desculpa. Ele deve prestar atenção no descarte dos resíduos, não podemos normatizar o que se viu no Rio de Janeiro nesse fim de semana. Isso também vale para banheiros químicos, tanto usar os banheiros quanto deixar o resíduo no lugar certo é dever do folião, e a Comlurb está certa em multar quem faz a coisa errada no lugar errado.
Nos últimos anos, houve iniciativas na Bahia para substituir o diesel mineral pelo biodiesel nos trios elétricos, o que ajuda a evitar a fumaça cheia de fuligem que, afirma Trigueiro, além de ser altamente poluente, também atrapalha o bem-estar dos foliões. As novas possibilidades pensadas para aproveitar o Carnaval, somadas com o descarte correto do lixo, podem tornar a comemoração mais barata, divertida e com menor impacto ecológico.
— Substituir esses materiais que duram horas e que depois são descartados como lixo são alternativas importantes. O glitter e a purpurina, por exemplo, que agravam o problema do microplástico dispersado nos oceanos, além de não se degradarem facilmente, demandam muita água para retirar da pele. São dois impactos gerados ao mesmo tempo. Isso afeta o universo microscópico, a interação do micro plástico com fenômenos que ocorrem nos oceanos em níveis imperceptíveis aos olhos. Soluções biodegradáveis precisam ser divulgadas, as pessoas precisam saber que existe opção.
Uma outra ação sustentável, que tem crescido no mercado desde 2017, é a produção e a venda do glitter biodegradável. A primeira empresa no Brasil nesse ramo foi a Pura Bioglitter, que começou pela iniciativa da arquiteta Frances Sansão, 29 anos, uma apaixonada pelo produto. A ideia surgiu quando ela descobriu os efeitos ambientais negativos do microplástico presente no material cintilante. A partir disso, a empreendedora procurou empresas no Brasil que fabricassem o produto sem plástico e, como não encontrou, decidiu criar uma fórmula caseira.
- Eu comecei a fazer testes em casa no final de 2016. Quando cheguei à formula que queria, resolvi mostrar para amigos, que adoraram. Diante disso, criei uma página no Instagram para divulgar o produto, um pouco antes do Carnaval de 2017. Voluntariamente, as pessoas de vários lugares começaram a encomendar.
Segundo Frances, a demanda aumentou consideravelmente desde 2017. Ela acredita que isso ocorreu principalmente pela conscientização crescente dos males do microplástico. A arquiteta pretende desenvolver outras ações sustentáveis de forma gradual, já que toda a produção é artesanal.
- Nós estamos dando um passo de cada vez. Este ano já fizemos uma oficina de produção de enfeites para a cabeça a partir de materiais reciclados. Foi muito produtivo. A nossa ideia é essa: expandir para várias atuações que estejam associadas a sustentabilidade.