Mudanças climáticas e saúde indígena
10/05/2024 17:00
Pedro Coutinho

Palestra convida pesquisadores para discutir a degradação da Amazônia

A pesquisadora da ENSP/Fiocruz Sandra Hacon apresenta as consequências das Mudanças Climáticas. Foto: Caio Matheus

A palestra “Impactos e desafios das mudanças climáticas no Brasil” alertou sobre a urgência no enfrentamento à degradação da Amazônia. Os riscos que as mudanças climáticas apresentam para a vida humana, especialmente dos indígenas, foram discutidos. O encontro no dia 19 de abril fez parte da parceria que o Departamento de Química da PUC-Rio tem com a Fiocruz. O Dia Nacional dos Povos Indígenas foi usado como oportunidade para promover questões centrais do Amazonizar, projeto da PUC-Rio que tem como objetivo a saúde dos povos originários e a valorização  da floresta em um cenário global.  

Uma das palestrantes foi a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) Sandra Hacon. Ela destacou a importância de uma instituição de ponta, como a PUC-Rio, ter a Amazônia nos objetivos acadêmicos. Um trecho do relatório de 2022 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lido pela professora, afirmou que “A mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta. Qualquer atraso em uma ação global coordenada e conjunta levará à perda de uma breve janela, que se fecha para assegurar um futuro habitável”. O aumento  da destruição da Amazônia e o crescimento da urbanização estimulam as alterações do clima. Assim, as possibilidades de reversão das mudanças no clima são poucas.

– Em 1975, 0,5% da Amazônia havia sido degradada; em 2019, o número chegou a quase 20%. Se nós atingirmos 25%, estaremos no ponto de não retorno. A degradação da floresta e o aumento da população urbana - que deve chegar a 90% em 2050 - causam a intensificação das ilhas de calor, como aconteceu no fim de 2023 – afirmou Hacon.

O professor Renato Carreira participa do seminário. Foto: Caio Matheus

No Seminário, o professor do Departamento de Química da PUC-Rio Renato Carreira explicou que existe uma molécula de grande emissão na Amazônia: o black carbon. Geradas por incêndios florestais, essas partículas vêm da combustão incompleta do carbono. Os resíduos – identificados em fuligem, motores de combustão ou qualquer queima vegetal em temperaturas acima de mil graus – quando dissolvidos no oceano, transportam moléculas de CO2. Os fragmentos também influenciam nas mudanças climáticas: as emissões de combustão fóssil geram um aumento de temperatura na atmosfera, o que intensifica  o efeito estufa, causando incêndios.

Foi convidada para o encontro na PUC-Rio,  a consultora de dados espaciais Cassia Lemos, integrante da Adapta Brasil. A empresa foi criada para integrar informações sobre os riscos climáticos e danos causados em diferentes setores. Desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pela Rede Nacional de Ensino de Pesquisa (RNP) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a plataforma foi definida como a provedora oficial de dados climáticos no Brasil. Cassia Lemos contou que o desenvolvimento do projeto foi difícil e durou dez anos. Com o trabalho de especialistas, a Adapta Brasil costuma usar fatores geográficos e sociais para os cálculos.

Consequências nos povos indígenas

A pesquisadora Ana Schramm fala sobre os impactos das mudanças climáticas em povos indígenas. Foto: Caio Matheus

Outra pesquisadora do clima, dedicada aos povos originários, Ana Schramm explicou que o sol  forte, o excesso de calor e as secas  mais longas são algumas questões que os indígenas se queixam. Os estudos de Ana revelaram que o aumento de temperatura afetou o mercúrio na região, que se tornou líquido e contaminou os rios e a vida marítima próximos da população local. Os peixes estão mais magros e em menor quantidade. Em uma visita a aldeias no município de Xingu, no Mato Grosso, a primeira demanda levada para Ana  foi  a qualidade da água e dos peixes na região.

– A alimentação tradicional está se perdendo. A demanda por cestas básicas é recorrente e, nas épocas do ano sem muitos peixes e frutas, é uma solução. A obesidade, a diabetes e a hipertensão estão entre os principais males dessa população.

Uma outra questão importante foi discutida no Seminário. A professora do Departamento de Biologia da PUC-Rio com estudos em Epidemiologia em Saúde Pública pela Fiocruz Ludimila Raupp explicou que existem obstáculos para conseguir dados concretos sobre a realidade  indígena. De acordo com a professora, o programa do SUS Subsistema de Saúde Indígena (SasiSUS) tem o objetivo de levar saúde às aldeias indígenas. O órgão capta todos os dados relacionados a comorbidades (doenças), óbitos e estruturas sanitárias de aldeias. No entanto, o acesso a essas informações é restrito.

Ludmila Raupp contou que os pesquisadores perceberam que muitos membros de aldeias se autodeclaravam indígenas no Censo do IBGE, mas diziam que seus filhos eram brancos, negros, pardos ou amarelos. A partir de 2010 foi adotada uma política em que a raça deve ser perguntada individualmente nas aldeias. Em 2000,  havia 734 mil pessoas declaradas indígenas no Brasil, dez anos depois, com a mudança, o número cresceu para 896 mil. Outro obstáculo para que esses dados estejam corretos é a categorização do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), essencial para os indicadores de qualidade de vida no Brasil.

– Com os dados que temos hoje, a mortalidade infantil indigena é vinte vezes maior do que a de outras etnias. No entanto, foi descoberto que, entre 2011 e 2018, 23% dos indígenas foram categorizados como pardos em sua morte. Isso quer dizer que, mesmo com indicadores ruins para os indígenas, esses dados ainda podem estar subnotificados.

Projeto Amazonizar

A coordenadora do Amazonizar Ana Cristina Malheiros explica o objetivo do projeto. Foto: Caio Matheus

Para a professora do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio e coordenadora do  Amazonizar, Ana Cristina Malheiros Gonçalves Carvalho, a iniciativa precisa ouvir a comunidade indígena para que possa responder às suas necessidades. Antes de realizar ações, o projeto  busca saber que propostas já existem  na Universidade e as que estão em atividade na Amazônia. A coordenadora acredita que é preciso entender qual ajuda é necessária para levar conhecimento, melhorar a qualidade de vida e desenvolver bons projetos. O Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., revelou que a instituição planeja abrir um escritório na Amazônia.

– A Universidade é um local de produção e de democratização do saber. É o lugar onde a gente se junta para construir coisas fortes. Falando sobre os indígenas, acho que a PUC-Rio precisa se colocar numa posição diferente, não de ensinar, mas de aprender. O jovem indígena tem que ser o protagonista da transformação.

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