A Floresta Amazônica, conhecida como o pulmão do mundo pela importância natural, sofre com ameaças nacionais e internacionais. Devida a ampla biodiversidade – a Amazônica é o bioma mais rico e diverso do mundo -, muitos países têm interesses comerciais e de pesquisa nela. Instituições como o Funbio e Conservação Internacional trabalham para reverter essa situação, a partir de projetos de criação e conversação de áreas de preservação ambiental e resgate da riqueza biológica da Amazônia. Eles participaram da mesa de debates do segundo dia da Semana de Estudos Amazônicos, na quarta-feira, 25, no auditório do RDC.
A principais causas de desmatamento na Floresta Amazônica é o corte de árvores para o comércio ilegal de madeira e as queimadas, também ilegais, para abrir espaço para pastos e agricultura, principalmente a de soja. Segundo o coordenador da Agência Implementadora de Projetos do Global Environment Facility (GEF) da Funbio, Fábio Leite, muitos desses pastos são improdutivos e existem apenas para a especulação imobiliária rural.
Estudos do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) mostram que já foram desmatados cerca de 19% da Floresta Amazônica nos últimos 40 anos. Para Leite, essa perda de árvores prejudica o estoque de carbono que ocorre nas florestas, uma de suas principais funções, além de também atrapalhar a função de equilíbrio térmico mundial e produção de oxigênio, visto que é a maior floresta tropical do mundo.
- A Floresta Amazônica é a área mais úmida do mundo, e o deserto do Atacama é uma das mais áridas. O que divide os dois é apenas a Cordilheira dos Andes. As árvores de lá transpiram mais do que a quantidade de água que desagua do Rio Amazonas no oceano. Qualquer mudança nesse sistema prejudica todo o abastecimento de água no Brasil, Paraguai e norte da Argentina.
O coordenador explica que também há muitas disputas por terras na Amazônia. Por falta de fiscalização por parte do governo, a população local já perdeu grande parte dos terrenos que era usado para agricultura familiar e sofre diariamente com ameaças. Segundo ele, as áreas que ocorrem mais mortes são as mesmas que o comércio ilegal é mais intenso e é onde há mais interesse comercial.
A Internacional Conservation, organização social sem fins lucrativos, trabalha na proteção da natureza e tem a Floresta Amazônica como uma prioridade devido à importância dela para o ecossistema mundial. De acordo com a organização, já houve alteração nos padrões de precipitação na região por causa do desmatamento.
A diretora técnica da Internacional Conservation no Brasil, Flávia Rocha, afirmou que, para resgatar a biodiversidade na floresta, a ONG organiza as áreas em três categorias. As verdes são onde já existe proteção ambiental e é preciso apenas gerir. Nas regiões amarelas, ainda não há desmatamento agressivo, mas a área está em situação de alerta por estar sob pressão comercial. As vermelhas, por sua vez, são onde já há um grande desgaste da floresta e é preciso contê-la para que não aumentem.
- Todas essas ações da organização na Floresta Amazônica trabalham sob três pilares, todos em versão sustentável: agricultura, infraestrutura e políticas econômicas. O incentivo ao plantio familiar nas áreas vermelhas, por exemplo, é um dos projetos desenvolvidos pela Internacional Conservation para resgatar a vida dessas áreas desmatadas. Nosso sonho é chegar, com isso, ao desmatamento zero – relatou Flávia.
O professor de Economia da PUC-Rio Sérgio Besserman acredita que a saída para preservação da floresta é o engajamento de toda a sociedade. Para ele, é preciso ter consciência da importância e do que ocorre no dia a dia na Floresta Amazônica. A Internacional Conservation, por exemplo, criou o projeto Pesca Sustentável, que preserva o estoque pesqueiro dos rios da Amazônia e contribuiu para as famílias que vivem da pesca.
Flávia relata que o consumo consciente começa quando as pessoas sabem o processo por trás daquele produto. A Pesca Sustentável tem parcerias com alguns restaurantes de São Paulo e, quando um cliente pede um peixe nesses estabelecimentos, um folheto explicativo sobre de onde vem aquele produto e como ele foi pescado acompanha o prato. Ela disse que essa é uma forma de conectar quem mora longe da Amazônia com a região, já que muitas vezes não há esse estreitamento de relações.
Para a diretora, as universidades são locais de produção de conhecimento, e, segundo ela, o estabelecimento de parcerias com as instituições de ensino é o que garante a execução dos projetos. Flavia afirmou que a troca de experiências é fundamental para a implantação de projetos na região. A dificuldade para que isso ocorra, porém, está no engajamento da sociedade.
– A dificuldade é fazer as pessoas acreditarem que essa transformação é realmente possível, que essa transformação, de fato, vai trazer um retorno econômico, além do retorno de conservação. Então investir realmente nessas áreas, engajar, fazer parcerias e mostrar para as pessoas que, apesar de isso ser um tiro de médio a longo prazo, é o que vai trazer benefícios concretos para as pessoas e para a economia local.