Equilibrar preservação, justiça social e prevenção de acidentes é uma questão constante para os povos da Região Amazônica e para quem trabalha com eles. As diferentes óticas deste desafio foram abordadas na mesa Territórios, lutas e pesquisa, realizada na quarta-feira, 25, como parte da 2ª Semana de Estudos Amazônicos (Semea). O encontro reuniu o padre Aloir Pacini, S.J., a representante chiquitana Sonia Tossue, o procurador federal Marcelo Kokke e a pesquisadora Maíra Borges Fainguelernt, da Unicamp.
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, o padre Aloir Pacini realiza estudos sobre a etnologia indígena e acompanha o povo chiquitano em suas lutas. Naturais da fronteira entre Mato Grosso e a Bolívia, os chiquitanos sofrem desde a conquista portuguesa para obter autonomia sobre o espaço. Para o padre, a percepção indígena sobre a terra é a “mais adequada”, pois não encara uma região como território inexplorado.
Divididos entre a Bolívia e o Brasil, os chiquitanos enfrentam a batalha pela demarcação do território, pois são ameaçados pela invasão de fazendeiros e pelo avanço da fronteira agrícola. Para a representante indígena Sonia Tossue, essa situação prejudica a identidade do povo.
— A juventude não tem se identificado como chiquitano. Os jovens não têm aprendido a nossa língua, por isso estamos fazendo um trabalho de resgate. A nossa identidade é enfraquecida, o que dificulta ainda mais o reconhecimento pela Funai para termos nossas terras demarcadas.
Outra preocupação é a questão ambiental, pois o desmatamento e o uso indevido das terras têm impacto direto na qualidade de vida dos povos indígenas. Segundo o procurador Marcelo Kokke, a falta de fiscalização e preparo para acidentes é uma característica da cultura do Brasil. Professor da Escola Superior Dom Helder, Kokke afirmou que sempre deve haver a preocupação com a possibilidade de desastres ambientais.
— Devemos sempre trabalhar com o pior cenário possível. Se tudo der errado, como vai ficar? – questionou.
A consequência da falta de precaução, segundo Kokke, resulta na reificação das pessoas, ou seja, tratá-las como objeto. De acordo com ele, a partir do momento em que os acidentes são naturalizados pela população e pelas autoridades, as vítimas se tornam objetos, “um peão da vida em face do destino”.
Pauta recorrente nos dias de hoje, a compensação ambiental, de acordo com a geógrafa Maíra Borges Fainguelernt, deve ser feita de maneira coordenada. Ela relatou que a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, ia compensar os danos causados em uma área muito distante de onde ocorreram os impactos. Após decisão judicial, o novo plano de recursos passou a priorizar a área da bacia hidrográfica do rio Xingu.
Após a mesa de debate, houve uma apresentação cultural, intitulada Mística Amazônica, em que indígenas ensinaram danças e músicas típicas aos participantes do encontro. A atividade ocorreu no Anfiteatro Junito Brandão.