Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, os índios sofrem impactos culturais e religiosos por influência do homem branco. Atualmente, as poucas aldeias que ainda restam no país lutam para manter viva a identidade e crenças herdadas dos ancestrais. As questões e diálogos inter-religiosos na Amazônia foram o tema da mesa redonda realizada na quinta-feira, 26, durante a Semana de Estudos Amazônicos (Semea), que ocorreu no auditório do RDC.
Os participantes da mesa discutiram sobre a importância da manutenção do folclore nacional e da cultura indígena, não só para os índios, como também para os nativos do Norte do Brasil. O paraense Anderson Pereira, doutorando em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ, relembrou histórias contadas pela avó durante a infância. Filho de ribeirinhos, ele contou, com base na própria história, a relação de respeito e identificação desses moradores com os rios, florestas e terras brasileiras.
Além das questões culturais, Pereira comentou sobre o projeto de pesquisa de terreiros de Umbanda na Região Amazônica, questão que foi discorrida também por outros participantes da mesa. O frei Reginaldo Silva, S.J., abordou o mapeamento das comunidades de matrizes africanas e afirmou que, que apesar dessa presença ser reconhecida, a região é majoritariamente cristã.
O frei também comentou que, apesar da presença, o catolicismo na região não coloca de lado os costumes indígenas. Citou exemplos de frades capuchinos que viveram durante anos em aldeias para entender os costumes dos índios. Porém, reconheceu que algumas religiões, em especial as de vertente pentecostais, influenciam tanto na vida dos indígenas como também dizimam comunidades religiosas africanas. Ele denunciou também os casos de assassinato de pais de santo em Manaus, resultado da intolerância religiosa na região.
Ainda na questão da interferência de outras religiões, a geógrafa Márcia Wayna Kambeba, de etnia omágua/kambeba, do Amazonas, discutiu sobre a demonização dos pajés e de como eles são convertidos por outras religiões. Ela ressaltou a importância desta figura religiosa para a comunidade indígena e de como a espiritualidade desse povo é alterada sem a presença desses líderes.
– Agora, em algumas comunidades quilombolas, bater tambor é coisa do demônio, mas coisa do demônio é destruir a cultura dos outros.
Padre José Ivo Follmann, S.J., comentou que a demonização dos cultos africanos é um grande problema da atualidade, inclusive na Região Amazônica. Para ele, essa questão resulta na intolerância religiosa. Para o frei Reginaldo, o respeito pela fé do outro é essencial para evitar os problemas e conflitos religiosos.