Novos formatos para a Sétima Arte
17/11/2017 15:19
Marcelo Antonio Ferreira

A agência de audiovisual Vintepoucos Filmes utiliza valores de empreendedorismo dentro do universo cinematográfico. Branded content é a principal ofício da empresa iniciante 

A chegada de novas tecnologias e a maior quantidade de plataformas obrigam o cenário audiovisual a se renovar e a encarar projetos como negócios Foto: Gab Meinberg


O cinema passou por mudanças, não só no formato, mas também na forma como é consumido. Atualmente, é possível assistir a séries, filmes e novelas na palma da mão, em qualquer hora do dia. Nessa onda de revolução, novos projetos e estruturas apareceram. De olho nessa mudança, a Vintepoucos Filmes é uma agência de audiovisual formada por um grupo de amigos, três deles ex-alunos da PUC que se conheceram na Empresa Júnior, que busca inserir valores empreendedores na indústria cinematográfica.

Apesar de também produzir filmes, uma agência de audiovisual se diferencia de uma produtora. Ela se especializa, especificamente, em produzir branded content, um conteúdo de audiovisual criado para um cliente específico. Victor Freire é um dos proprietários e está no último período do curso de Cinema. De acordo com ele, a internet é a maneira mais ágil e barata de um produto atingir seu público. E isso não se estende apenas à publicidade.

– Formatamos uma empresa para produzir conteúdo para internet e fazer marketing de conteúdo, que é o novo anúncio. Hoje em dia, se vê que a publicidade está desviando muito mais verba para internet do que para televisão. Na TV, se dá um tiro de canhão, que vai pegar um universo inteiro. Na internet, você consegue segmentar com muito mais facilidade e tem um feedback bem mais rápido. Um filme não precisa estar no Festival de Berlim para ser comprovadamente bom, pode ser muito bom na internet.

Freire ainda ressalta a importância dos saberes interdisciplinares no momento de produzir qualquer conteúdo, seja um filme ou um anúncio. E isto inclui saber empreender bem, comenta o sócio da Vintepoucos Filmes.

– Existe um tabu muito grande. A maior parte das pessoas acredita que empreender é algo relacionado à economia ou administração, e que empreendedor não entende de arte. Mas o pensamento que falta entender é que qualquer projeto audiovisual é uma atividade empreendedora. Realizar um filme é, sim, empreendedorismo. Mais que isso, é como se você estivesse abrindo uma empresa.

Em setembro, Freire e Gab Meinberg, outro dos cinco sócios, foram ao Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual 2017(Forcine) representar a PUC-Rio. A edição deste o ano ocorreu na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu. Eles participaram da mesa para debater o tema Estratégias de capacitação para atuação de egressos no(s) mercado(s) de cinema e audiovisual, com mediação do professor Ney Costa, do Departamento de Comunicação Social.

Meinberg conta que no Fórum foram abordadas a questão do processo de realização de um projeto audiovisual e a necessidade de o cinema conquistar uma certa independência como indústria.

– A maioria dos filmes é feita aqui por meio de edital ou incentivo fiscal. No final das contas, é um projeto. Inscrever um projeto em um edital é a mesma coisa que fazer um plano de negócios: a sua empresa escrita.
Quanto se gasta, quando se tem o retorno, o que precisa, público alvo, diferencial para existir. O cinema no Brasil é muito pautado no governo. Ou seja, se estamos em um governo que precisa reduzir os gastos, o primeiro lugar em que haverá cortes de verba vai ser a cultura, situação que está acontecendo agora.

De acordo com Meinberg, o audiovisual, em geral, ainda pouco usufrui de um mercado de interconhecimentos. E o que impossibilita este desenvolvimento é a participação de profissionais pouco capacitados.

– Eu acho que o cinema é, hoje, a área que menos bebe de outras profissões. Você não precisa ser só diretor ou só criativo. Para mim, um produtor criativo é o cara que, quando faz o filme, prevê que vai precisar de 150 camisas brancas, mas encontra uma marca que pode doar as 150 camisas. E o dinheiro que seria gasto é investido no aluguel de uma locação. Dá para ser muito criativo nesse sentido.

O professor Ney Costa incentiva que os alunos façam bom uso do cenário interdisciplinar enquanto estão na universidade. De acordo com ele, o cenário do audiovisual está em constante mudança, e os profissionais devem acompanhar esse cenário.

– Fazer cinema, hoje em dia, significa muitas coisas. Estar capacitado para se expressar audiovisualmente, em diversas plataformas. Essa geração lida com a multiplicidade de plataformas de uma maneira muito diferente da minha. Quando me formei, em 1975, nunca imaginei que estaria sete anos depois em uma produtora. Produtora é empresa e, como tal, deve ser tratada.

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