Caminhos para formar leitores e a importância da literatura na construção do indivíduo nortearam a aula inaugural do Departamento de Educação, realizada na terça-feira, 20, com a professora Nazareth Salutto, doutora em Educação pela PUC-Rio. No encontro, ela discutiu temas como as políticas de incentivo à leitura e relatou experiências vividas por ela na área da educação infantil.
Segundo Nazareth, a formação de leitores passa pela esfera individual e coletiva, mas tem na cultura um ponto chave para o sucesso. Para a professora, é preciso ter cuidado com a abordagem literária e com a maneira que ela é oferecida aos jovens. Ela explicou que o Brasil conta com algumas políticas de incentivo à leitura nas escolas públicas, que visam garantir o contato dos jovens com livros didáticos e literários por meio da formação de acervo. Segundo a professora, o país está bem servido de políticas, mas apenas elas não são suficientes.
— Ler literatura é uma questão de direito, sim. Determinada pela legislação por meio de políticas como o Plano Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), da composição de acervos como o Plano Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Iniciativas e projetos institucionais ou comunitários, que envolvem práticas e ações que visem promover a leitura literária. Temos uma legislação que define e coloca a literatura em um lugar privilegiado. As políticas são fundamentais, mas elas sozinhas não bastam.
Para Nazareth, a literatura, por conta do caráter ficcional e estético, contribui com a formação do espírito e para a formação cidadã na compreensão do mundo e da sociedade. A professora, com base na sua experiência com educação infantil, destaca algumas propostas para a formação de leitores. Segundo a educadora, o processo tem início no interior do indivíduo. É preciso ler por vontade própria, sem pressão externa ou a obrigação de produzir algo depois.
A segunda etapa, afirmou Nazareth, seria encontrar no tempo um companheiro e desprender-se do tempo cronológico, que pode ser um empecilho na hora da leitura. Ela explicou que cada pessoa tem um ritmo próprio e diferentes necessidades ao ler um livro e, às vezes, precisa reler um trecho mais de uma vez para entendê-lo completamente. Para isso, é necessário eliminar a pressa nos momentos de leitura.
A professora destaca também o papel da coletividade na construção do hábito da leitura. Para ela, é importante ter o outro como cúmplice para compartilhar as sensações e conflitos provocados pela história. A cultura complementa esse âmbito, ao se tornar a plataforma para que a literatura exerça o potencial de criadora de diálogos e questionamentos que carrega. Nazareth considera que a peça chave do processo é não deixar a experiência ficar contida apenas ao indivíduo.
— Cito Martin Buber: “começar consigo, mas não terminar consigo. Partir de si, mas não ter a si mesmo como fim”. O que fazemos com as histórias que lemos e escutamos? Falo para não ficar em si mesmo como uma aposta coletiva, para fazermos circular as imagens que criamos no momento da leitura.