As cidades precisam equilibrar a dinâmica espacial alterada pela globalização econômica, caso contrário, ficarão reféns de disparidades entre espaços de trabalho. Na prática, o diagnóstico da geógrafa e professora da USP María Laura Silveira aponta para o acirramento da dependência entre o que a especialista chama de “circuitos superiores e inferiores”, afastando as metrópoles de um modelo equilibrado. “A metropolização, decorrente da globalização, provocou mudanças nas demandas das cidades e, consequentemente, na lógica organizacional, com uma crescente divisão dos espaços de trabalho, em virtude de fatores econômicos e tecnológicos”, ressaltou María Laura, aos acadêmicos e profissionais reunidos em torno do tema na Semana da Geografia da PUC-Rio.
– Há uma disparidade gritante entre espaços de trabalho, que abrigam circuitos econômicos distintos e possuem entre si uma relação de subordinação, na medida em que um circuito dispõe de maior potencial tecnológico e maior volume de capital em comparação ao outro – observou a palestrante, no III Simpósio Internacional sobre Metropolização do Espaço, Gestão Territorial e Relações Urbano-Rurais.
Para a professora, tais circuitos se refletem drasticamente na organização espacial das cidades. Equacioná-los exige, ainda de acordo com a especialista, “uma melhor compreensão dos efeitos da política e do trabalho no espaço material”:
– Os circuitos superiores, formados por bancos, fundos de investimento, corporações multisetoriais e empresas especializadas em informação, têm condições de regular as relações de trabalho das quais são parte interessada, demitindo e estipulando regras. O problema nisso tudo é que os agentes desses circuitos não atuam no território alterado por eles. Portanto, não são afetados pelos resultados dessas alterações – alerta.
No fim desse processo, os circuitos inferiores, cada vez mais distanciados dos superiores, de acordo com a geógrafa, tornam-se mais dependentes e os espaços urbanos ficam ainda mais desequilibrados. Segundo María, a racionalização espacial acompanha a racionalização econômica:
– Os avanços da ciência provocaram uma racionalização da organização espacial, que serve a um punhado de agentes econômicos. Dessa forma, a ciência dá a última palavra sempre. Quando os circuitos superiores não têm mais interesse por algum mercado, empresas menores, com nível mais simples de organização assumem essas demandas, formando o chamado circuito superior marginal.