O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., destacou ser preciso que os brasileiros tomem consciência da responsabilidade perante as mudanças climáticas. Além disso, durante a palestra Fé no Clima, o ambientalista salientou a relação entre religião e meio ambiente como uma saída para propagar a conscientização ecológica. A conversa ocorreu nesta terça-feira, 22, no Museu do Ambiente e contou com a presença de 12 líderes religiosos que desconsideraram as diferenças de crenças para debater um tema de importância universal.
A discussão de questões ambientais no meio religioso ainda causa estranhamento. Isso se deve ao fato da religião ser atrelada às tradições seculares e doutrinas atemporais. Padre Josafá, autor de livros como A flora do campus da PUC-Rio e Ética socioambiental, ressaltou a adesão dos ideais ecológicos a partir da encíclica do Papa Francisco Louvado sejas (Laudato si', em latim), apresentada em maio de 2015, para aproximar a fé cristã dos "cuidados com a casa comum". Convidado para debater sobre a poluição do ar, o reitor da PUC-Rio atentou para a falta uma visão ética diante do meio ambiente, uma vez que não é apenas uma preocupação científica.
— Clima é um bem comum de todos e para todos. A encíclica coloca isso como uma questão preocupante, porque a sociedade científica fala de apenas uma mudança comum, mas não é. A preocupação ética é um clamor das religiões, da sociedade e da ciência. Para mim, isso é lindo, porque une três grandes preocupações.
(Leia também: Especialistas e bispos debatem ética socioambiental no Rio)
Além disso, Padre Josafá sugere a reflexão como uma forma de retroceder os problemas:
— A sociedade precisa reparar no modo de vida. Se não mudarmos o nosso comportamento, os problemas do meio ambiente irão aumentar progressivamente. Uma solução é repensar no sistema de produção e de consumo.
Outro problema, na esfera da mudança climática, são os "refugiados ecológicos". O termo foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para as pessoas que foram forçadas a deixar suas terras por causa da degradação da natureza. O autor de mais de 50 artigos científicos e de 13 livros sobre o meio ambiente alerta para esse problema:
— Aumento do refugiado ecológico é uma preocupação das religiões. Faço uma pergunta: como criar condições para os refugiados ecológicos? Segundo o Papa Francisco, há uma passividade perante esse tema. Nós temos que pensar em soluções – comenta.
(Leia também: Inter-religiosidade constrói pontes para agenda socioambiental)
Segundo estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 3,8 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças originadas pela poluição do ar. Dessa forma, padre Josafá aponta o individualismo como uma das causas desse problema:
— A poluição do ar é um problema de falta de visão integrada do mundo; um problema de ética. Não é só um problema tecnológico e científico. A degradação ambiental está intimamente atrelada a degradação social. Nós estamos vivendo a era do individualismo e esquecemos que há pessoas ao nosso redor. O mesmo acontece com a natureza, porque eu percebo que ninguém para um minuto do seu dia para observar a obra do Criador; é muito raro.
Jornalista aponta a igreja católica como local de iniciativas ecológicas
Sônia Bridi, jornalista e escritora de livros como Diário do Clima (editora Globo Livros, 2012), também foi uma das palestrantes do debate ocorrido no Jardim Botânico. Para ela, utilizar a igreja como meio de socialização é uma oportunidade de dar início a atividades ecologicamente corretas.
— A igreja é um local ideal, porque você passa a conhecer pessoas que estão sempre em contato com você, ou seja, você começa a ter referências. Isso é importante para, por exemplo, começar a montar grupos de carona. Sabemos que o transporte público não chega a todos os lugares do Rio de Janeiro. Assim como, cada um usar carros próprios não faz bem ao meio ambiente. Por isso, você ter confiança e segurança é importante para conseguir firmar esse tipo de iniciativa e a igreja é o local que provem esses dois fatores.
Sônia relatou os bastidores da série do Fantástico Terra, que tempo é esse?, no qual usou as viagens pelo mundo em busca de respostas para as alterações climáticas. Para ela, o replantio de arvores e a produção de uma horta comunitária são formas de reduzir os níveis de poluição no ar atmosférico:
— É preciso incentivar o replantio, porque eles deixam o ar mais puro, além de refrescarem o ambiente. Com tanto uso de aparelhos que ainda liberam os gases CFC, plantar árvores é uma forma de reduzir esses impactos. Além disso, a horta comunitária e a compostagem são formas sustentáveis de manter o verde na cidade e ainda reduzir o custo dos alimentos- comenta.