O quinto dia do mês do Dragão
19/07/2023 15:30
Sophia Marques

Comunidades brasileira e chinesa se uniram na celebração de uma das maiores datas festivas da China

Festival Duanwu, do Mandarim, tem duração de três dias e é comemorado a partir do quinto dia do mês cinco do calendário lunar chinês. Foto: Caio Matheus

A convite do Instituto Confucius PUC-Rio, alunos, professores, funcionários, executivos e representantes políticos se reuniram para celebrar o Festival do Barco do Dragão, no Auditório Padre José de Anchieta, na manhã do dia 21 de junho. Além de uma apresentação em vídeo sobre a grande festividade tradicional, o público pôde apreciar mostras de canções chinesas, artes marciais, poesias e outras atividades típicas do festival, como a produção da pulseira de cinco cores e degustação do Zongzi, comida típica da solenidade.

O Festival Duanwu, do Mandarim, tem duração de três dias e é comemorado a partir do quinto dia do mês do Dragão no calendário lunar chinês há mais de 2.000 anos. É um momento para se livrar de doenças, do infortúnio e homenagear o poeta ancestral chinês Qu Yuan. Na cultura chinesa moderna, a história conta que durante o período dos Reinos Combatentes, Qu Yuan serviu como ministro em altos cargos na dinastia Chu, mas quando o rei Huai de Chu se aliou ao estado de Qin, Qu Yuan foi destituído do cargo, exilado e teve sua imagem degenerada.

Quando o estado de Qin capturou a capital de Chu, o poeta cometeu suicídio ao se atirar no rio Miluo. A população local, que tinha adoração por Qu Yuan, saiu vagando em barcos para tentar salvá-lo, ou ao menos recuperar o corpo. Daí a origem das corridas de barco, típicas do Festival do Barco do Dragão. Sem recuperar o cadáver, tornou-se costume lançar bolinhos de arroz pegajosos no rio, os Zongzi, porque acreditava-se que, assim, os peixes não devorariam os restos mortais de Qu Yuan.

Os Zongzi são bolinhos de arroz com recheios variados, feitos em forma triangular e embrulhados em folhas de bambu. Foto: Caio Matheus

O Festival do Barco do Dragão também é conhecido por práticas que, acredita-se, previnem doenças, promovem saúde, bem-estar e afastam o mal. Em algumas regiões da China, é comum o uso das pulseiras de cinco cores, que representam os cinco elementos e protegem quem as usa. Também é popular que as pessoas coloquem Vinho Realgar, tradicionalmente usado como pesticida e antídoto contra doenças, no rosto das crianças. Isto porque no início do século XX, o Festival Duanwu também ficou conhecido como o Festival dos Cinco Insetos Venenosos, e diz a lenda que a bebida pode repelir as criaturas venenosas. Outras atividades comuns incluem pendurar ícones de Zhong Kui, uma figura mítica, e folhas de artemísia e cálamo.

A cor vermelha representa o fogo, o amarelo, a terra, o branco, o metal, o azul, a água e o verde a madeira. Foto: Caio Matheus

Para muitos dos presentes, a iniciativa do Instituto Confucius foi uma oportunidade de prestigiar o Festival do Barco do Dragão pela primeira vez. Para outros, que cultivam no dia-a-dia os costumes ancestrais do outro lado do mundo, foi uma chance para estreitar laços e se integrar ainda mais à comunidade da Ásia Oriental. É o caso do jovem Ma Yu Hong, que esteve presente na comemoração. Brasileiro, filho de pais chineses, ele celebra esta data todo ano com a família e sonha com um futuro integrado na cultura chinesa.

— Meus pais são da China e por isso eu tenho uma influência chinesa muito grande. Todo ano, no Festival do Barco do Dragão, fazemos o Zongzi para comer e distribuir entre familiares e amigos. É muito bom estar aqui, em meio à comunidade. Além de comer bastante, para mim é muito importante cultivar este interesse, porque vai me abrir portas no futuro, no meio acadêmico e profissional.

O diretor brasileiro do Instituto Confucius PUC-Rio, professor Leonardo Bérenger, demonstrou satisfação em representar a instituição nesse momento significativo e memorável para o povo chinês. Ele agradeceu o esforço conjunto das entidades presentes, ao promover experiências culturais que divulguem a língua e cultura chinesa, não apenas aos alunos, mas à comunidade em geral. Segundo ele, depois de quase 12 anos de parceria entre a PUC-Rio e a Hebei University, ainda há uma longa jornada para a consolidação da relação entre Brasil e China no campo diplomático, cultural e educacional.

—  Para além da nossa atuação perante o Departamento de Letras e a Central de Extensão da Universidade, o Instituto Confucius busca firmar convênios de cooperação educacional. Estes envolvem desde a participação em programas de ensino de mandarim em escolas públicas do Rio de Janeiro, até acordos acadêmicos com grandes multinacionais chinesas, especialmente da China National Offshore Oil Corporation Brasil (CNOOC Brasil)l. Vamos continuar atuando como um alicerce facilitador dessa troca cultural, de fundamental importância para ambas as nações.

Diretor do Instituto Confucius, professor Leonardo Bérenger. Foto: Caio Matheus

A CNOOC Brasil, uma das empresas apoiadoras da celebração, é a maior empresa de exploração petrolífera offshore em alto mar da China, e tem aproximadamente 21 mil funcionários ao redor mundo. Atualmente, detém participação em cinco ativos de campos petrolíferos no Brasil, com investimento acumulado de mais de US$ 7 bilhões. A empresa firmou, este ano, um acordo com o Instituto Confucius para o ensino de chinês e português na empresa. Também tem apoiado diversos projetos culturais e sociais, como o ensino de mandarim, inclusive em escolas públicas do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Confucius.

—  A CNOOC Brasil tem planos para adotar a cooperação energética como base no futuro, e investir na transformação energética e no desenvolvimento. Cumpriremos a nossa responsabilidade social em ambos os países: vamos retribuir ao povo brasileiro e contribuir ainda mais com o intercâmbio cultural, desenvolvimento econômico e amizade entre os dois países. O intercâmbio cultural é uma ponte importante para o nosso entendimento e companheirismo. Abertura, tolerância, desenvolvimento e benefício mútuo são as bases de nossa cooperação. Todos saem ganhando.

As outras entidades presentes expressaram gratificação em promover um momento como este. Para o CEO da China Mobile Communications Corporation (CMCC), Jim Wang Zhuping, a celebração do Festival do Barco do Dragão representa o espírito de união e ajuda mútua. Ele afirmou que nos anos que estão por vir, a CMCC vai dar continuidade aos investimentos na área da infraestrutura de tecnologia da informação empresarial no Brasil, e espera construir pontes de amizade entre as duas grandes nações.

A presidente da Associação Arte e Cultura RioMont, Márcia Melchior, relembrou que a ideia da organização surgiu durante a comemoração do Dia Internacional da Língua Chinesa, em 2022, na PUC-Rio. A RioMont é uma associação privada sem fins lucrativos, com um dos focos principais no desenvolvimento de atividades relacionadas às artes e cultura chinesa. Márcia disse que celebrar datas como o Festival do Barco do Dragão permite que os povos desfrutem da riqueza cultural de ambos os países.

O encontro na Universidade foi mais um fruto do Instituto Confucius, uma parceria entre a PUC-Rio e a Hebei University, da China, e foi um incentivo ao intercâmbio cultural entre as comunidades chinesa e brasileira. Esta edição teve apoio do Consulado Geral da República Popular da China, e também das empresas CNOOC e CMCC. A organização foi realizada pela Associação de Arte e Cultura Riomont.

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