Em meio aos dez quilômetros já percorridos pela lama do maior desastre ambiental do Brasil, cerca de 400 pessoas se reuniram, ontem, nas praias de Ipanema e Copacabana para exigir políticas sólidas que freiem mudanças climáticas e a devastação ambiental. Às vésperas da Conferência das Partes (COP21) em Paris, a Marcha pelo Clima carioca, embora tenha sido pensada por Organizações Não Governamentais (ONGs) como o Greenpeace e o SOS Mata Atlântica, foi aderida por diversos segmentos da sociedade civil, entre partidos políticos e cidadãos engajados.
No documento conjunto, os organizadores destacaram como principais reivindicações o desmatamento zero, fim de subsídios aos combustíveis fósseis e agropecuária industrial e o incentivo à produção de energia renovável. Em setembro, durante conferência da ONU, a presidente Dilma Rousseff anunciou o compromisso de reduzir, nos próximos 15 anos, 43% das emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa. Mas, de acordo com a presidente da ONG Defensores da Terra, Lara Moutinho, é preciso formalizar uma agenda que seja discutida também pela população.
- O Brasil é um dos primeiros países que ousou e estipulou metas, até mesmo na última edição da COP. O problema é que essas metas são sempre construídas em gabinetes, de cima para baixo. Eu entendo que seja algo muito técnico, mas tem que ser um processo mais participativo, até porque a questão da mudança climática atinge o planeta como um todo. É preciso comprometer mais a participação e controle social sobre o Estado.
A negligência dos responsáveis pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco, que varreu do mapa o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, em Minas Gerais, permeou a fala e a performance dos manifestantes. A Ala ‘Vale Nada’, uma referência à companhia Vale do Rio Doce – que controla a Samarco - vestiu-se de lama para proclamar a morte do Rio que leva o nome da terceira maior mineradora do mundo em decorrência da tragédia. Qualquer pessoa poderia aderir ao protesto.
Para o deputado federal Alessandro Molon, recém filiado ao partido Rede Sustentabilidade, cuja bandeira principal é a preocupação com o meio ambiente, a mobilização popular é uma maneira de pressionar o poder público.
- A marcha é importante para sinalizar que a sociedade civil está ligada na COP21 e espera decisões ousadas. É também uma sinalização para as autoridades brasileiras, para que tenham responsabilidade nas decisões que podem influenciar a manutenção do clima abaixo dos 2ºC e na preservação ambiental, sobretudo no momento do acidente em Mariana, e que, apesar dele, ainda tem gente defendendo facilitar o licenciamento ambiental no Congresso – afirmou o deputado, que é professor do Departamento de Direito da PUC-Rio.