Combinação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas e criação de animais, o sistema agroflorestal vem se firmando como um bom modelo de agricultura sustentável e aplicado em agriculturas familiares. Comparado à agricultura convencional, tem entre as vantagens a fácil recuperação da fertilidade dos solos, o controle de pragas, e a melhoria da qualidade de vida da família agricultora. Na maioria das vezes, a madeira e os frutos das árvores também servem como fonte de renda.
Em Tomé-Açu, no norte do Pará, os sistemas agroflorestais são usados há mais de 35 anos, inicialmente implantados na colônia nipo-brasileira para melhorar a produção de pimenta-do-reino, cultivada lá desde 1929. Ao longo do tempo, outras culturas foram adicionadas à da pimenta – como cacau, cupuaçu, açaí, acerola, melão –, e passaram a ser reconhecidas como mercadorias valiosas e incorporadas à economia local. O caso do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), que impediu o desgaste da área de plantio e controlou a proliferação de pragas que atacavam as pimentas-do-reino, é um dos apresentados no livro Restauração ecológica com sistemas agroflorestais: como conciliar conservação com produção, recém-lançado por Andrew Miccolis, que atua há 20 anos em projetos agroflorestais.
Presidente nacional do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (Icraf), instituto internacional especializado em manejo sustentável, proteção e regulação de florestas tropicais e reservas naturais, fundado em 1978, sediado em Nairóbi, Quênia, Miccolis apresentou os benefícios dos sistemas agroflorestais em palestra promovida pelo Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio), no Auditório RDC da PUC, na sexta-feira 7 de abril.
As propostas estudadas e defendidas no livro são a recuperação de áreas degradadas por meio de estratégias que unem a conservação com benefícios sociais e a possível aplicação do método em larga escala no país. Miccolis explica que a restauração ambiental tem o objetivo de fazer a manutenção das estruturas e funções do ecossistema original na área degradada, funções como a biodiversidade, fertilidade do solo e infiltração de água:
– É possível cumprir com os objetivos da restauração e ao mesmo tempo ter o retorno econômico e incluir o ser humano no processo e quando feito da forma adequada é possível até acelerar os processos de recuperação ecológica quando o homem está incluído – afirma Miccolis, também especialista em agroecologia e gestão participativa de recursos naturais.
Um dos pontos ressaltados pelo pesquisador é o benefício social desse tipo de agricultura, que considera o bem-estar, a autoestima e a organização. O agricultor, por exemplo, trabalha na sombra: “São detalhes, mas quem trabalha no sol sabe como é melhor a sombra. Faz uma grande diferença para quem vive da terra”.
De acordo com a lei 12.651/2012 do código florestal o manejo agroflorestal só pode ser realizado em Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs) desde que “não descaracterize a cobertura vegetal nativa existente, nem prejudique a função ambiental da área”. No entanto, Miccolis observa que a legislação é ambígua, o que acaba prejudicando a disseminação e a aplicação mais ampla do processo.
Para Miccolis, que também coordena o Instituto Salvia de Soluções Socioambientais (ISSA), é necessário focar na capacitação de técnicos e formuladores de políticas, no monitoramento e avaliação de experiências no campo, no esforço coletivo para preencher lacunas de conhecimento científico e prático para finalmente aumentar as escalas e ampliar as parcerias.
– O que queremos a final de contas é que isso seja uma realidade mais ampla. A agrofloresta é um processo muito viável, mas ainda necessita de estudos e tempo para prosperar. O acesso a recursos e a opções tecnológicas adaptáveis a diferentes contextos são os maiores desafios a serem vencidos para instaurar uma produção em larga escala com essa estratégia.