Poeta, crítico literário, pesquisador e professor emérito do Departamento de Letras da PUC-Rio, o goiano Gilberto Mendonça Teles escreveu mais de 60 livros ao longo da carreira. O novo trabalho do poeta, Memórias Entrevistas, lançado recentemente, apresenta um formato completamente diferente dos demais, pois publica, em ordem cronológica, 111 entrevistas concedidas por Teles entre 1956 e 1992. Como foi entrevistado cerca de 280 vezes ao longo da carreira, o autor optou por dividir a obra em dois volumes e o lançamento do segundo está previsto para o segundo semestre de 2017.
Classificado por ele como uma espécie de memória e autobiografia, o livro inclui entrevistas de diferentes épocas da vida do autor. As conversas publicadas foram divulgadas em jornais, rádios e emissoras de televisão de 14 estados brasileiros e ainda em Portugal, na Itália e nos Estados Unidos. Além desses países, um dos diálogos ocorreu na França, país de onde o escritor afirmou ter se inspirado em um livro composto por entrevistas para fazer a nova obra.
O número de diálogos escolhidos não foi arbitrário. Teles pensa que o número 111 proporciona um sentido implícito de repetição. Segundo ele, é uma característica que a experiência lhe mostrou ser comum no meio jornalístico. Apesar do tom crítico, o livro também rende elogios à imprensa ao dizer que, sem as entrevistas que concedeu ao longo da vida, ele não teria aprimorado algumas ideias e refletido sobre conceitos que o fizeram perceber um sentido mais profundo na linguagem literária.
– Muitas vezes, o repórter pergunta uma coisa que um outro já perguntou e eu acabo dando a mesma resposta. Há um sentido de repetição que eu percebo quando certo assunto já foi tratado. Ao mesmo tempo, a repetição do número um me aparenta continuidade. Por isso escolhi o número 111.
A facilidade relatada pelo escritor para organizar as entrevistas que estão dispostas no trabalho pôde ser observada na casa do autor. Nas paredes, repletas de livros organizados por sessões, estão dispostas pastas com recortes de artigos, matérias e entrevistas separados em ordem cronológica. O poeta afirmou que a transcrição foi a maior dificuldade encontrada para transferir o conteúdo para a obra.
– Meu doutorado foi feito sobre a poesia do Carlos Drummond de Andrade, o que fez ficarmos amigos. Um dia, perguntei como ele organizava os arquivos relacionados ao trabalho dele e recebi a seguinte resposta: “Parto do princípio de que sou a pessoa mais importante do mundo”. Desde então, tudo que é escrito sobre mim entra em uma pasta. Se é sobre crítica, coloco em uma pasta negra, se é sobre poesia, coloco em uma pasta verde, e, com o tempo, passei a ter pastas apenas para entrevistas.
No ano de 1964, que marcou o início da repressão instituída pela ditadura militar brasileira, Teles deu uma entrevista para o jornal O Popular, de Goiânia, em que buscava divulgar o Centro de Estudo Brasileiros da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde lecionava. Nessa ocasião, o texto foi confiscado e censurado antes de chegar aos leitores, mas o autor guardou um rascunho e publicou, de forma inédita, no novo livro Memórias Entrevistas.
Afetado pelas ações dos militares, o escritor foi exilado e conseguiu, através de um amigo, uma bolsa para estudar em Portugal. Enquanto estava na Europa, Teles participou de conferências e foi convidado a dar aula para brasileiros em Montevidéu, Uruguai. Depois de passar quatro anos na capital uruguaia, aposentado como professor iniciante da UFG, que ele mesmo ajudou a fundar, o autor de Memórias Entrevistas se mudou para o Rio de Janeiro, onde conseguiu um cargo no Itamaraty. Com a anistia, ele pôde recuperar a posição que tinha na UFG e transferiu-se para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A história do poeta com a PUC começou no ano de 1958, quando foi contratado pela então recém-inaugurada Universidade Católica de Goiás, que hoje é a PUC-Goiás. Quando voltou do Uruguai para o Brasil, Teles iniciou na PUC-Rio, onde, hoje, é professor emérito. A relação do autor com a sala de aula baseia-se, segundo ele, em um tripé que beneficia a ele tanto quanto aos alunos.
– O estudioso tem que estudar para dar aula. Eu tinha que ler livros para lecionar e o que estudava servia para o meu papel de crítico e poeta. Então, ao longo do tempo, tornou-se perceptível que modifiquei o meu estilo literário. O que eu aprendo estudando, ensino. É um tripé em que eu e os meus alunos saímos vencedores.