Os dias 24 e 25 de maio foram repletos de troca e aprendizado no seminário “Ensino de História e Projetos de Extensão: Encontros entre escola e universidade”. Professores, pesquisadores e alunos se reuniram para debater aspectos essenciais que atravessam a atuação dos docentes em sala de aula no campo da história. O objetivo do encontro foi discutir caminhos para a extensão universitária, a partir da análise de Projetos de Extensão desenvolvidos por grupos de pesquisa vinculados a cinco instituições de ensino superior do Rio de Janeiro, além do Laboratório de Estudos em Ensino de História e Patrimônio Cultural (LEEHPaC), da PUC-Rio.
Coordenadora do LEEHPAC, a professora Juçara Mello, do Departamento de História, deu início às exposições do seminário no Auditório Padre José de Anchieta, no primeiro dia de encontro. Além dela, participaram da mesa de abertura a Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica, professora Jackeline Farbiarz, a Coordenadora Central de Licenciaturas, professora Maria Rita Santos, e a Coordenadora de graduação do Departamento de História, professora Larissa Correa, que falou em nome do diretor, professor Henrique Estrada. Docentes de outras instituições também prestigiaram o simpósio. A interdisciplinaridade, o diálogo entre teoria e prática, e a convergência de interesses entre universidades e escolas foram pontos comuns para os oradores.
Juçara contou que a ideia do encontro surgiu do desejo de ampliar redes para trocas de experiências dos grupos do projeto Patrimônio cultural negro, ensino de História e educação antirracista, desenvolvido pelo LEEHPaC em 2021. A iniciativa uniu pesquisadores, bolsistas, graduandos e pós-graduandos de dentro e fora da PUC-Rio a professores e alunos de colégios da cidade, para elaborar oficinas de história e temáticas raciais. Nos dois dias de seminário, equipes da UERJ, UFRJ, UFF, PUC-Rio e do CAp-UERJ apresentaram registros e resultados do que desenvolveram.
Desde janeiro deste ano, a inclusão da extensão universitária nos currículos de graduação se tornou obrigatória para todas as universidades, de acordo com a Resolução nº 7, de dezembro de 2018, do Conselho Nacional da Educação. Segundo a Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica, professora Jackeline Farbiarz, ações da Universidade junto à comunidade já existiam, mas estavam invisíveis, pois não participavam do mesmo espaço que pretendem ocupar agora. Ela acredita que o debate é necessário para repensar a extensão sob uma perspectiva de escuta e cooperação, e não de superioridade acadêmica.
— Antes de mais nada, a gente participa de uma instituição que se significa no seu tripé ensino-pesquisa-extensão. Esta é a nossa oportunidade de trazer a extensão para além da vivência. Colocá-la em regulamentos, nos estatutos, em ação. Eventos como este contam para a gente a história da esperança, da possibilidade, do encontro e da abertura. A partir da extensão, a gente assume um grande processo de reconhecimento, renovação e integração de uma sociedade.
A professora Maria Rita relembrou a cultura de parceria entre universidades e escolas, que se popularizou no Brasil durante as reformas educacionais da década de 1990. A ideia une instituições em um objetivo comum, por meio de colaborações,
partilha de compromissos e responsabilidades de ambos os parceiros, em acordos mutuamente benéficos. Ela considera que a reflexão e o debate são ferramentas importantes para que se possa compreender a diferença entre extensão e parceria, e em que momento estas atividades se integram.
- De um lado, a formação de professores e profissionais para Educação Básica representa um dos principais compromissos da PUC-Rio. De outro, os desafios atuais da escola básica têm proporcionado uma aproximação entre universidade e escola, corroborando o papel substancial e indispensável que ambas assumem na formação de professores. Acredito que os projetos apresentados no seminário devem contribuir de forma significativa para a formação do professor, do papel das parcerias e da identificação das atividades de extensão.
O diretor do Departamento de História, professor Henrique Estrada, enviou uma mensagem sobre a necessidade de requalificar o ofício extensionista à luz das práticas de ensino e pesquisa e, na mão contrária, também repensar as próprias atividades de ensino e pesquisa do ponto de vista da extensão. Neste sentido, ele declarou que a criação de uma Vice-Reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica representa o novo posicionamento da Universidade, e assinalou que a presença da professora Juçara no quadro principal do departamento é um êxito, pela trajetória que a acadêmica trilhou no ensino de história e na concepção de projetos extensionistas.
Troca e Aprendizado
A professora Juçara Mello foi responsável por perguntas e questionamentos às diferentes mesas que foram organizadas para apresentação de trabalhos. Juçara
ressaltou a importância de levantar as pautas debatidas ali e assinalou que há um avanço significativo com um projeto desta natureza.
- A academia não está acostumada com o tipo de trabalho que estamos fazendo aqui, há algum tempo o reconhecimento dessas práticas era nulo. Os encontros destes dois dias são significativos no sentido de reafirmar a importância dela (a extensão) na universidade, e é urgente que seja valorizada assim. Precisamos desse compromisso com o social - defendeu a professora.
O cuidado em pensar ações pedagógicas e extensionistas que discutissem inclusão e cidadania nas escolas pôde ser observado como elemento de união entre os diversos profissionais das múltiplas vinculações acadêmicas. A professora Patrícia Teixeira de Sá, da UFF, por exemplo, falou sobre o projeto de educação antirracista que tratava da representação de negros e indígenas em livros didáticos e fontes audiovisuais em escolas.
Durante a pandemia de Covid-19, por meio de oficinas realizadas em escolas públicas de Niterói, expandidas também para conexão com uma outra em Ouro Preto, Minas Gerais, procurou-se entender como o material didático mais tradicional apagava o lugar da população negra num contexto pós-abolicionista ou o lugar da população originária durante a colonização. Segundo Patrícia, o mais relevante era aprender a “deseducar” o olhar estabelecido. Propor redimensionamentos da história do Brasil foi o norte do projeto.
Ela também defendeu o espaço escolar como local de troca de saberes e práticas entre professores e estudantes, e também de ponte entre ensino básico e superior. Como houve mudanças no perfil do público universitário brasileiro a partir da
Lei de Cotas, observou a professora, o projeto de extensão procurou acompanhar e reforçar essa mudança.
Em outra esfera, o projeto História local e o ensino de humanidades: do reconhecimento à valorização da comunidade escolar e de seus sujeitos históricos pensa o ensino de história a partir da valorização da história local. A iniciativa é liderada pela professora Márcia de Almeida Gonçalves, da UERJ, e foi representada, no seminário na PUC-Rio, pelas professoras Cláudia Patrícia de Oliveira Costa e Rita de Cássia Ribeiro da Silva, da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.
Com financiamento da FAPERJ voltado a projetos desenvolvidos em parceria com escolas da rede pública do estado e do município do Rio de Janeiro, a problematização de histórias e memórias locais é desenvolvida em uma escola em Brás de Pina, na Zona da Leopoldina. A região, que tem sido afetado pelo crescimento da violência, requer produção de conhecimento que mergulhe nas especificidades e temporalidades do lugar. Segundo Márcia de Almeida Gonçalves, os mapas do bairro e o maior entendimento da geografia da área por parte dos alunos é uma potencialidade pedagógica em jogo.
Professora da rede pública, Rita de Cássia Ribeiro da Silva relatou o que acompanhou no bairro ao longo do tempo. Ela também queria entender o motivo de o subúrbio pouco aparecer na historiografia.
- Existe uma normalização da violência nas escolas, no entorno delas. Espero que a gente consiga construir uma imagem melhor de Brás de Pina no final do projeto, que não seja só marcada pela violência.