Uma das musas do Cinema Novo, a atriz e cineasta Ana Maria Magalhães participou no dia 9 de maio de uma conversa com alunos das disciplinas Direção de Atores e Direção Cinematográfica Ficção e pesquisadores do Grupo de Estudos em Direção e Performance no Cinema e no Audiovisual, coordenado pelo professor Flávio Kactuz. Ela relembrou de alguns momentos da carreira e das diversas oportunidades que surgiram a partir da sua experiência com a arte de atuar na frente – e por trás – das câmeras.
Ana Maria iniciou a carreira como atriz em 1960, e atuou em obras emblemáticas do cinema brasileiro. Também fez novelas nos anos 1970 e se tornou diretora na década de 1980. Figura relevante do movimento do Cinema Novo, ela foi casada com o diretor Nelson Pereira dos Santos, com quem fez o filme Como era gostoso o meu francês, de 1971, e posteriormente com o diretor Gustavo Dahl, autor de Uirá - Um índio à procura de Deus, de 1972, do qual Ana fez parte do elenco.
Desde a infância, ela tinha o sonho de ser atriz. Quando criança, saía escondida da mãe para ir com a irmã mais velha assistir às aulas de teatro, e aos 8 anos implorou aos pais para ir ao Rio de Janeiro atuar numa peça. Em 1964, o pai, um deputado federal pernambucano, foi cassado pela ditadura militar, e Ana foi trabalhar na área da contabilidade, porque havia prometido à mãe, no leito de morte, que não seria atriz. Mas quando tinha 15 anos, foi descoberta pelo ator Nelson Xavier, e apresentada ao ator Cecil Thiré, diretor de O Diabo Mora no Sangue, filme de 1968 que marcou a estreia de Ana no
cinema.
— Sempre digo que o cinema veio até mim. Eu não procurei, isto tenho a meu favor. Estudei teatro, tenho formação teatral, mas foi no cinema que as oportunidades apareceram.
Os alunos que participaram do bate-papo com a atriz expressaram interesse nas experiências vividas por ela dentro e fora dos sets, em especial com o longa-metragem Como era gostoso o meu francês. Para reconstruir o cenário de uma aldeia tupinambá, o filme foi gravado em uma fazenda em Paraty. Ana interpreta a personagem indígena Seboipepe, que anda completamente nua e fala em tupi. E foi neste momento que Ana teve a primeira experiência atrás das câmeras.
— Eu já tinha muito interesse na direção. E tive a felicidade de trabalhar com o Nelson, que não separava a frente das câmeras detrás. Era como se fosse uma coisa só. Por exemplo, quando trocou a continuísta, eu fiz a continuidade do filme durante uma semana, até chegar um novo profissional. Nisso, precisei tomar nota das lentes, da metragem e todas aquelas coisas. Depois, o Nelson me chamou para a montagem, e eu fui estagiária de montagem.
Ana falou, ainda, da importância que a nova geração de aspirantes a cineastas tem para o país. Apesar de ser um nome conhecido do cinema nacional, a atriz considera que a vida profissional no ramo é difícil e relembrou dos desafios que enfrentou sendo, também, mãe de três filhos. Ela acredita que a era dos streamings junto à falta de ações de incentivo e conservação à cultura configuram uma ameaça ao cinema brasileiro, e disse que a os jovens têm um grande papel a desempenhar no futuro da Sétima Arte.
— O Brasil vai precisar muito de vocês. As coisas estão ficando muito universalizadas e a tendência é o cinema brasileiro desaparecer. Até porque não há preservação, não se cuida das matrizes propriamente, os filmes não são restaurados, não há verba e ninguém pensa nisto. Vocês são uma geração com novos pensamentos e têm uma grande missão pela frente: levar o cinema brasileiro adiante.