“As escolhas feitas nos próximos 20, 30 anos são enormes comparadas àquelas do século XX. Essas próximas duas décadas vão decidir o futuro. Os jovens é que vão decidir o legado que vão deixar para seus filhos e netos”, afirmou Sergio Besserman Vianna a uma plateia de universitários. O professor de Economia da PUC-Rio e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) abriu o painel de quinta feira, dia 9, da XXII Semana do Meio Ambiente.
Discutindo o tema de mudanças climáticas, ressaltou o papel decisivo dos jovens nas próximas décadas. Formado em Economia pela PUC-Rio, o ex-diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), preside também a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura, devido a sua experiência como formador de políticas públicas sustentáveis. A elevação da temperatura do planeta em 2°C, de acordo com Besserman, é o ponto central da discussão:
– Os dois graus [a mais] estão confirmados e vão acontecer. A temperatura da Terra normalmente oscila a cada mil anos. Em um século aumentamos 2°C, o que pode dar origens a outros comportamentos. Estamos destruindo a natureza do planeta do nosso tempo.
Na economia, ressaltou que não haverá desenvolvimento e crescimento econômico sem que seja cobrada a emissão dos gases de efeito estufa: “A emissão de gases poluentes deve ser incluída no preço final para que haja conscientização e mudança de hábitos. Esse impacto não pode sair de graça”. No âmbito social, o professor alerta também que, com as mudanças climáticas, os principais avanços contra a pobreza mundial serão perdidas, como já registrado em documento oficial do Banco Mundial. Outro ponto relevante é, a seu ver, o alto custo da adaptação da vida humana no planeta:
– A adaptação é impossível, cara demais. O furacão Sandy, que atingiu Nova York em 2012, fez em um dia um estrago significativo em seu sistema de metrô. Não podemos estudar o aquecimento global a partir de um caso isolado, mas com certeza esse furacão teria feito menos estrago se não fosse por esse cenário. O mundo vai mudar, e escolhas terão que ser feitas. O nosso jeito de morar nas cidades vai mudar.
Refugiados ambientais
Besserman defende ainda que tais mudanças vão impulsionar ondas migratórias significativas de refugiados ambientais, o que também influenciará nessa dinâmica. Uma das principais medidas para evitar o iminente aumento da temperatura em mais de dois graus seria uma “revolução” de comportamento, explicou, criticando a falta de penalidades para os países que não cumprirem as metas negociadas na COP21 e em outras conferências do clima.
– Mudar hábitos de consumo e comportamento, mas mesmo assim, é apenas para manter em dois graus, mas quase com certeza o aumento será maior. A chance estacionarmos em dois graus é muito pequena, e esse é o limite do perigo.
Metrô e bicicletas na Gávea
Com a obra da estação do metrô da Gávea, a PUC-Rio tem um desafio pela frente: repensar o campus, que deixará de ser um espaço de convivência restrito a alunos e moradores das redondezas e passará a receber pessoas de todos os pontos da cidade. A Universidade terá que conciliar a ecologia, uma das marcas registradas da instituição, preconizada pela administração do reitor Josafá de Siqueira, com a eficiência necessária à mobilidade urbana.
– A PUC é um polo gerador de viagens com horários de pico muito bem definidos. Quando a estação de metrô ficar pronta, isso vai mudar. As pessoas sairão daqui para outros lugares – alertou a professora de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio Izabella Lentino. – É importante que o planejamento da mobilidade urbana reduza a distância entre lugares de interesse. No caso da Gávea, o transporte público deve integrar a PUC, o Planetário, o Complexo Lagoon...
Pensando na sustentabilidade, Izabella apresentou alternativas para a mobilidade urbana e para a estrutura do campus da Universidade:
– Os jovens usam cada vez menos o carro. Não dá mais para priorizar o transporte motorizado e individual. Redução do estacionamento de carros, aumento do número de bicicletários e construção de vias seguras para bicicletas e pedestres são iniciativas fundamentais. Quem não tem alternativas ao carro pode organizar caronas, para aumentar o rendimento da locomoção e ocupar menos espaço no trânsito. Para a professora de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio Maria Fernanda Campos Lemos, o campus deve ser um “espaço de experimentação coletiva” que deixe os alunos “mais felizes”. Ela propõe um acordo coletivo para melhorar a convivência e aumentar a sustentabilidade:
– Tudo que é construído pelo homem provoca impactos, que não são necessariamente ruins. Eles regulam nossa relação com a natureza e com o outro. As pessoas se apropriam de ambientes agradáveis, como os Pilotis e o Anfiteatro, que estão sempre cheios. O estacionamento, por outro lado, está sempre deserto, porque as pessoas não se sentem à vontade lá.