Há 14 anos, o professor Henrique Rajão, do Departamento de Biologia, recebeu a doação de 13 binóculos para a Associação de Amigos do Jardim Botânico. Ele, então, teve a ideia de criar um passeio para observar pássaros, por causa da grande diversidade de aves encontradas no Jardim: são em torno de 200 espécies catalogadas. Ao fim de cada encontro, os participantes fazem uma lista do que foi avistado que é enviada para o eBird, um banco de dados de Passeio de observação de pássaros propõe parceria com meio ambiente observação de aves da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, parceira da PUC-Rio neste projeto.
Os passeios tomaram forma e começaram a ocorrer mensalmente, aos sábados de manhã, com número entre 20 e 30 pessoas, mas sempre com novos participantes, que na maioria, não são estudiosos da ornitologia. É o caso de Sergio Costa, guia turístico, que uniu a paixão pela fotografia e a preocupação com a natureza, e virou frequentador há mais de sete anos. Para Costa, o Jardim Botânico é o lugar ideal para observar aves. Ele leva uma câmera profissional e clica quando se depara com alguma espécie rara, como foi o caso do Chibum, ave migratória de baixa aparição no local.
– O maior benefício para a ecologia é a conservação. Se começarmos a informar as pessoas, elas terão mais consciência. A fauna não existe sem a flora, e a flora não existe sem a fauna – afirmou Costa.
Outro benefício do passeio é a retomada do urbano com a natureza. Isso se encaixa no conceito de Ciência Cidadã, que é a forma de a pessoa colaborar para estudos científicos. Ao fim do passeio, os participantes se reúnem no Café do Jardim e trocam informações sobre as espécies avistadas e enumeram o que foi visualizado durante as cerca de quatro horas de observação.
– Fazemos uma análise para ver se as abundâncias aumentaram, diminuíram, se alguma espécie entrou em extinção ou mudou de distribuição geográfica – comentou Rajão.
O número de observadores de aves no Brasil tem crescido nos últimos 15 anos. Vale lembrar que o país tem 1.900 tipos de aves, é o segundo mais rico do mundo em variedade de pássaros, atrás apenas da Colômbia. O Avistar, clube que promove congresso sobre ornitologia, estima que no Brasil há cerca de 30 mil adeptos à prática hoje. O cálculo é feito a partir de registros quanto ao número de participantes nas unidades do Clube de Observadores de Aves (COA) dos estados brasileiros e também pelos usuários na internet que publicam fotos de pássaros no site Wikiaves.
Ao frequentar os passeios, o observador também adquire mais sensibilidade visual e auditiva. Há tipos de aves com cantos diferentes e maneiras diferentes de se comportar. Por exemplo, só é possível observar ninhos a partir do mês de junho, um padrão em toda a Mata Atlântica. As aves procriam nesta época para que os filhotes nasçam na primavera e no verão, quando há maior oferta de frutos e insetos.
Dentre os frequentadores, alguns poucos são estudiosos da área. Professor de Biologia há mais de 20 anos, Alessandro Allegretti diz que os encontros promovem a sensibilização das pessoas em relação à natureza, e ele descobre novidades no mundo da ornitologia.
– O ser humano não pode se sentir à parte, tem que se sentir incluído no ambiente. O Jardim Botânico é bom lugar para observar aves porque elas já estão acostumadas com a presença das pessoas.
Pela facilidade de acesso e de observação, o Jardim se tornou o lugar mais comum para prática. Mas, no Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Tijuca, o Bosque da Barra e o Parque da Cidade também são propícios para os interessados