As questões climáticas são contas que nunca fecham para o economista Sergio Besserman Vianna. Formado em Economia na PUC-Rio, onde é professor, o ex-diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) é também ambientalista. Pesquisador das mudanças climáticas desde 1992, foi membro da Missão Diplomática Brasileira à Conferência das Partes (COP4 e COP7), da Convenção de Mudanças Climáticas da ONU, e participou da Conferência Mundial das Metrópoles dedicada ao clima (C40) em Nova York, representando a cidade do Rio, em 2007.
Para Besserman, membro do conselho diretor da WWF Brasil, falta penalização para países que não cumpram o estipulado em conferências do clima, como a COP21. O mesmo vale para compromissos locais – no caso do Brasil. “Vamos ficar com o legado que é a tensão provocada pela poluição da Baía de Guanabara”, defendendo a pressão política para tirar metas do papel, como o saneamento básico. Coordenador da Rio+20 na Prefeitura, o professor preside também a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura, devido a sua experiência como formador de politicas públicas sustentáveis, e acaba de ser escolhido o novo presidente do Jardim Botânico do Rio. Nesta entrevista ao Jornal da PUC On-Line, durante a XXII Semana do Meio Ambiente da PUC-Rio, ressalta o papel decisivo dos jovens e da própria Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, na busca por políticas climáticas, e avalia positivamente a contribuição da PUC na difusão de conhecimento e em ações concretas de sustentabillidade.
O senhor criticou a falta de penalização para países que não cumprirem o estipulado em conferências do clima como a COP21. O senhor acredita que se deva dar continuidade a essas reuniões?
Sergio Besserman Vianna: Pode e deve ter continuidade. Não existe governança global para que essas conferências tomem ainda decisões que se traduzam em atitudes concretas sobre tema algum. Nem sobre a Síria, nem sobre finanças nacionais, muito menos sobre mudanças climáticas, mas é um espaço fundamental para fazer política global. Nesse sentido, o acordo de Paris foi histórico, e essas reuniões anuais dão continuidade ao que foi decidido. Mas é principalmente um espaço privilegiado para fazer política e pressionar as lideranças do mundo a se mexerem. Nós não esperamos nada a partir deles. Sem pressão, nada acontece. Vai depender de ONGs e, principalmente, da juventude do mundo, da Encíclica Laudato Sí e de outros agentes. Tanto o empresário como o líder político não tomam decisões em longo prazo. Só acontece se nós impusermos. Na política, por exemplo, a taxa de retorno é o voto. O político não olha para daqui a 30 anos quando ele não vai mais ser candidato ou sequer estar vivo. Somos nós que temos que mudar essa situação.
O Brasil sediou a Copa das Confederações Fifa e a Jornada Mundial da Juventude em 2013, a Copa do Mundo em 2014, e agora é a vez dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Este holofote no Brasil representa uma oportunidade para mudar sua posição quanto à sustentabilidade?
Besserman: A Copa do Mundo, nesse sentido, foi um fracasso. Quem salvou a Copa foi o povo brasileiro, porque a imagem do Brasil ficou bem degradada. A festa, o nosso jeito de ser, o acolhimento nos salvou. Nos Jogos Olímpicos talvez aconteça alguma coisa, mas o compromisso relativo à sustentabilidade ficou de lado. A parte de mobilidade foi bem cumprida – não quer dizer que esteja tudo certo, ainda há muitos acertos a serem feitos. Para os eventos teremos muito BRTs e estações do metrô. A cidade do Rio vai ser completamente diferente. Mas as promessas relativas ao meio ambiente não foram cumpridas. Nem quanto à despoluição das lagoas de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca, e muito menos ao estabelecer um ritmo bom do processo na Baía de Guanabara. No entanto, vamos ficar com o legado que é a tensão provocada pela poluição da Baía de Guanabara. Sem as Olimpíadas, isso não teria ido para a primeira página dos jornais. Com as Olimpíadas foi, e vai de novo. E isso gera uma tensão que pode nos ajudar muito a finalmente viabilizar politicamente que o grande problema do Brasil, que é o saneamento básico, seja centrado todo ao redor da Baía de Guanabara, e a partir daí possamos iniciar um processo de despoluição efetiva.
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Que ações de planejamento serviriam para repensar a cidade em torno do conceito de sustentabilidade?
Besserman: A cidade do Rio tem uma vantagem que ao mesmo tempo é uma desvantagem. A gente faz umas besteiras incríveis, mas mesmo assim continua única no mundo essa ligação entre construção e natureza. A vantagem é que o carioca tem uma ligação muito forte com a natureza, ele sabe que isso tem a ver com seu bem-estar, sua vida cotidiana. Isso já muda as coisas. Em termos de agenda de transformação da cidade, avançamos mais do que algumas cidades do Brasil, junto com Curitiba e outras poucas. Mas a estrada pela frente é muito longa. Como a PUC-Rio pode contribuir para reduzir seu impacto ambiental?A primeira coisa que a universidade deve fazer, e está fazendo, é relacionada àquilo que é o seu próprio coração: o conhecimento. O pior impacto que a PUC ou qualquer universidade poderia ter seria, em qualquer área do conhecimento, ignorar mudanças climáticas. O pior dos impactos seria a existência de uma universidade que não leva em consideração o fato de que as mudanças climáticas viraram um dos setores mais importantes que definirão o mundo em que viveremos. O segundo é aquilo que os cristãos chamam de testemunho. No seu fluxo de utilização de bens, serviços e materiais, ela procura ter o melhor testemunho de utilização, de modo a impactar o mínimo possível todas as cadeias que operam seus resíduos. Eficiência energética, hídrica, na coleta de material, seletiva de lixo, e assim por diante. Eu colocaria dentro disso um aspecto que é o cuidado com o próprio pedaço de terra onde a PUC está instalada. Isso inclui cuidar do rio e da vegetação dentro do seu campus. E a PUC faz isso, em iniciativas de vários professores e redes, como o Nima, algo que deve ser ampliado com o tempo e incorporar os vizinhos, especialmente os mais carentes. Todos juntos para cuidar do espaço maior, aquele que não é de propriedade da PUC, como a bacia hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas, a Mata Atlântica, o Jardim Botânico, que é especial, e muitos outros. Há vários atores sociais e econômicos muito presentes em toda a área da Gávea e do Jardim Botânico. Tem muita gente aqui dentro fazendo trabalhos reais, e isso dá à PUC a possibilidade de ser parceira e catalizadora de ações em defesa do meio ambiente tanto nessa área da cidade como na cidade como um todo.